MAS PERA LÁ, É PAQUERA OU É ASSÉDIO? – Por Mariana Distéfano Ribeiro

Por Mariana Distéfano Ribeiro

Eu escrevo muito sobre feminismo. E escrevo porque falo e estou sempre refletindo sobre as situações da vida que a gente passa e que outras mulheres passam. É assim que acontece, depois que a gente desperta a mente, os ouvidos, os olhos e os sentidos, é que a gente descobre que devia ter reagido a muitas situações que passamos e vimos passar e que nem tudo é brincadeirinha e nem sempre é sem querer.

Mas, depois de escrever e revisar alguns textos sobre feminismo, depois de repensar algumas atitudes e reações minhas, fiquei imaginando se eu poderia ter exagerado em alguma coisa ou de alguma forma. É que detesto incoerência, em qualquer lugar ou qualquer coisa. Ainda mais quando percebo desconexão lógica e argumentativa em alguma coisa que falei ou que escrevi.

Porque, quem nunca riu de uma piadinha de putaria? Quem nunca ouviu um “ê lá em casa” e até curtiu? Aí me perguntei: mas um “ê lá em casa” é assédio ou é uma cantada? Eu posso ser feminista e gostar de ouvir um funk de mexer a raba? Uma cantada chula, é só xaveco ou pode se transformar num assédio?

Aí, mais uma vez, depois de refletir um pouco, a ficha caiu e minhas dúvidas foram sanadas. Então vamos lá, vamos esclarecer esses pontos.

Direto e reto: a diferença entre assédio e cantada está no CONSENTIMENTO. Se você está numa festa de carnaval, por exemplo, e um cara chega em você pedindo um beijo, com uma cantada bem escrota do tipo “ei gostosa, vamo dar uns pega?” e você diz “ah, num tô fazendo nada, bora lá” – isso não é assédio! É uma cantada, é só uma paquera, porque teve o seu consentimento.

Agora, se o cara chega com a mesma cantada e você diz “não amigo, muito obrigada”, e o cara insiste com um “ah coé? Eu vi você beijando vários caras já, vamo dar uns amasso…” e você insiste que não quer, aí o cara insiste que quer e te xinga ou te puxa à força, aí sim é assédio. Aqui não houve o seu consentimento, você demonstrou a sua recusa, disse claramente que não. Entendeu?

Tudo depende do bom senso de cada um e do limite de tolerância que cada um tem. Mas fato é: se alguém te abordar de qualquer forma, desde que não haja violência física, e você demonstrar não gostar da abordagem, deixar claro que não quer, e a pessoa te deixar em paz, não há assédio, nem abuso. Talvez uma ofensa à sua honra, à sua moral, ou aos seus princípios, mas aí já é outra história.

Fato é que, se a pessoa respeitou o seu “não” e parou de fazer o que quer que seja que estivesse fazendo, não estará configurado o assédio.

Mas isso não quer dizer que você precise aturar aquele coleguinha que toda vez que te encontra te abraça como se estivesse se esfregando em você, nem que você precise escutar calada aquela piadinha sexista que te ofende. Nesse caso, deixe claro que você não concorda com aquela abordagem ou com aquele comentário. E não tem que ter medo de falar. Tenha certeza, sempre vai ter alguém falando que você está exagerando. Deixa falar e seja firme.

A figura feminina foi legalmente e culturalmente tão oprimida e por tanto tempo que é meio difícil mesmo quebrar esse paradigma agora. Mas as paqueras e as cantadas saudáveis são muito bem vindas sim, desde que sejam consentidas.

Vovó já dizia “o que um num quer, dois não fazem”. E se o um insistir, é assédio sim.

*Além de feminista com orgulho, Mariana Distéfano Ribeiro é bacharel em Direito, servidora do Ministério Público do Amapá e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva.

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