Melhor idade é a minha! – Crônica de Lulih Rojanski

 

Crônica de Lulih Rojanski

Sonhei que encomendavam uma missa católica para os meus 50 anos, no intuito de me fazer esquecer a ideia de realizar no quintal de minha casa a maior cachaçada de que já se teve notícia. E o padre iniciava a missa assim: “Caríssimos irmãos, estamos aqui reunidos para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo e os 50 anos de Lulih Rojanski.” Faço aniversário perto da Páscoa, mas confesso que, no sonho, por esta eu não esperava. Muito menos acordada. E havia um momento em que eu me pronunciava para os fiéis, dizendo a seguinte pérola: “Ter 50 anos é o equivalente a ter 15 anos… 15 anos é a melhor idade da juventude, o princípio de tudo. 50 é a melhor idade da maturidade, outro princípio…” Depois disso, eu tinha uma crise de soluços e a missa terminava, do nada. Coisa de sonho.

Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi agradecer a Jesus Cristo por já ter 54. Missa dos 50, só em pesadelo! Mas fiquei pensando no que disse no púlpito, e em dado momento comecei a encontrar certa lógica na filosofia da melhor idade. Minha amiga Elaine vive dizendo: “Melhor idade é o cacete!” Concordo com ela, em parte. Nem 50 nem depois deles é a melhor idade. Nem os 20 ou 30. Nem idade alguma! Acredito que a maturidade tem realmente algo de muito especial, mas a melhor idade é qualquer uma. Aquela em que você se sente realizado e bem-sucedido, seja lá o que bem-sucedido lhe signifique.

Para mim, por exemplo, que sou bastante dada a buscas de harmonia e paz interior, que enfeito a casa com mandalas e mensageiros do vento, que uso japamala e entoo mantras, ser bem-sucedido é passar o fim de semana deitada no gramado, olhando a luz entrar pelas copas das árvores, subitamente esquecida da existência dos calendários. É ter um sono feliz depois de 15 minutos de meditação. É não sofrer por não ter, compreendendo que ter não passa de ilusão. E por aí vai.

Elaine não quer saber de minha opinião sobre o “bem-sucedido”. Já a ouviu uma vez e me mandou me lascar várias vezes. Para ela, Ganesh é só um elefantinho afeminado, meditação é para quem não pode comprar aparelhos eletrônicos, e cantar mantras é coisa de maluco beleza que viaja de Kombi. Ignoro Elaine. Quando quero espantá-la de minha casa, acendo um incenso de pau santo.

A melhor idade chega a qualquer momento para quem ousa transformar a vida para se sentir feliz. Tem gente, por exemplo, que morre aos 100 anos sem nunca alcançá-la. Coincidência ou não, a minha é agora. Mas pretendo esticá-la até os 117.

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