Mentira e egocentrismo: a fraude da persona virtual

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Perceba que algumas pessoas se posicionam no Facebook como verdadeiros mártires. Imagem: Jesus Coroado de Espinhos, Bosch

Por Camilla Lopes Pacheco

Há um aspecto muito positivo na maturidade que é o ceticismo. Não tem a ver com desconfiança, é o aprimoramento da análise de discurso individual. Você desconfia, apura, atesta e fica preparado para a próxima tentativa de engodo. As pessoas tentam te tapear o tempo todo, mas agora em uma nova modalidade: o extremo humanismo.

Esse golpe também é chamado de “vaidade histérica”. Para apresentar de forma mais óbvia: lembre-se da primeira versão do jogo The Sims, se você já se interessou por ele, ou mesmo o Second Life. Nesses dois jogos, cada um com suas particularidades, o objetivo era construir uma persona virtual. Como cada um luta com seus demônios, resta construir uma persona virtual que dá a essa gente um impressão de saciar a frustração – em parte, claro – de não conseguir modificar o que se acredita estar errado consigo.

Isso é Carl Jung simples, muito usado nas conversas dos anos 80 quando além da astrologia as pessoas também utilizavam esse assunto para descolar uma transa. No entanto, a persona virtual nada mais é do que a teoria de Jung adaptada à tecnologia e vamos ser específicos e pular dos anos 80 para 2015: o comportamento do Facebook.

Imagine que cada perfil do Facebook é um personagem do Second Life sob aspectos reais. GUSTAV-JUNG-facebookO nome do usuário é o de batismo, o emprego, as viagens, as comidas são reais. A forma como as pessoas se posicionam é o ponto em que você deve desconfiar delas.

Há dois contatos meus no Facebook que sigo por um “desejo enorme de revolucionar” (carimbo dos anos 80, com o Guilherme Arantes que é um cara bem conservador) com a cara delas, faço isso secretamente no meu cantinho diabólico. Um rapaz e uma moça, vamos batizá-los como José e Maria, os pais do Jesus Cristo carpinteiro – com certeza eles iriam odiar isso e me sobe uma pequena satisfação por essa vingança.

A persona facebuquiana de José

José é um cara que começou do zero, nasceu em uma cidade bem irrelevante e precisou conquistar o mundo indo para São Paulo se aventurar nas agências de publicidade mostrando toda sua criatividade e talento para ser engraçado e divertido. José é um falso cosmopolita, ele nunca viajou muito, mas conhece várias culturas através da internet, seu lar. Uma garoto muito agradável, meio gay, mas que não deixa claro sua orientação sexual “porque afinal de contas ninguém tem nada a ver com isso e ele exige respeito” – nesse sentido há uma contradição no discurso da persona facebuquiana do José, mas adiante explico. José mantém uma página e um perfil com seu nome real: José da Silva, uma personalidade. O conteúdo compartilhado é sempre o óbvio progressista:

Redução não é a solução – aborto – causas raciais – causas da sexualidade – feminismo estereotipado

Maria e as suas idiossincrasias

Já Maria é muito doida: ela é feminista, mas está a fim de descolar uma transa heterossexual e em alguns momentos fala sobre a repressão sofrida pela mulher e em outros de como seria bom ter uma noite de sexo. Recentemente, Maria contava em sua timeline que foi importunada por um rapaz em um bar. O cara a achou bonita e foi até ela. Mesmo muito a fim de transar, Maria não gostou da abordagem: ela disse que não estava querendo ser abordada naquela noite e tocou o homem como se ele a houvesse desrespeitado. Apesar dessa situação, Maria supostamente tem um coração enorme. Está sempre contando nas redes sociais quando dá um alô para um mendigo ou mesmo compartilhando boas notícias que resultem em “mais amor, por favor”.

Onde mora o problema?

Essas duas pessoas são os arquétipos da vaidade disfarçada de bom mocismo, da persona facebuquiana que é, desde o assassinato do yorkshire, um vício moderno. Fica evidente que os referidos têm tantas contradições vindas da baixa autoestima que há o esforço em permanecer virtusosos aos olhos dos outros. São más pessoas? Não necessariamente, mas estão os dois condicionados a essa fraude vaidosa – e consumCaptura-de-tela-2015-07-05--s-18-27-00ada – que se manifesta em expressões repetitivas quando compartilham indignações ou comemoram uma vitória da humanidade.

O efeito nocivo dessa vaidade é eleger “salvadores da pátria” incapacitados ou, na pior das hipóteses, canalhas.

Aconteceu quando uma moça anunciou ter sido estuprada em uma casa noturna de São Paulo e posteriormente disse que não havia sido. Ou quando a travesti Verônica Bolina quase assassinou uma idosa e gerou uma hashtag #SomosTodosVerônica. Verônica e a menina da boate são bodes expiatórios dessa gente egocêntrica que pretende montar uma persona virtual bonitinha, humana, heroica… E mentirosa.

O nosso herói José sequer tem coragem para se assumir gay. E Maria vive a confusão de querer um homem, mas que não a aborde, que concorde com seus compartilhamentos e que não tenha, com todos esses requisitos, qualquer verve masculina em sua personalidade.

Não se deixem enganar.

Fonte: Margaretes

*Dica de leitura do brother André Mont’Alverne

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