Meus amigos ETs – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Esta crônica é uma homenagem aos meus amigos ETs. Eles mesmos, que estão por aí curtindo a sensação que deve ter alguém que quase todo mundo afirma que não existe. Alguns amigos deste mundo, de vez em quando, vêm com esse papo: a existência de vida além deste nosso planetinha tão maltratado. O assunto é muito bom, mas as pessoas costumam transformá-lo em coisa chata, rasteira, uma monótona repetição de ideias.

– Ah, que nunca foi comprovado nada sobre a existência de vidas alienígenas!

– Ah, que não se pode acreditar em extraterrestre e em Deus ao mesmo tempo!

– Ah, que os extraterrestres são maus, querem nos escravizar!

– Ah, que só o nosso planeta, no universo infinito, reúne condições para que um ser possa se desenvolver, respirar, essas coisas.

– Ah, que isso ainda não apareceu no Fantástico!

– Ah, que saco! (digo eu).

Eu era adolescente de outro século e essas coisas já eram ditas. E elas, no século XXI mais ainda, continuam fora de qualquer raciocínio razoável.

Vou aproveitar que meus amigos ETs estão passando o carnaval aqui em Macapá e montar um bloco só de amigos de outras galáxias. Só para mostrar a todo mundo que gente de outro mundo existe. Na certa, nem serão notados. O pessoal vai pensar que se trata de fantasia.

Meus amigos ETs não precisam mesmo ser notados. Meus amigos ETs não precisam se juntar à maioria da população da Terra. Meus amigos ETs não entendem como os humanos conseguem fazer e pensar tanta merda. Meus amigos ETs jamais usariam termos como “sapatão” e “viado” para se referir a um outro alguém. Meus amigos ETs não fazem a menor questão de saber com quem o vizinho dorme.

Na passarela, o bloco dos seres terrestres. Eles se acham a espécie mais evoluída, mais desenvolvida, mais inteligente de todo o universo. Esse é o enredo da escola de samba da vida deles. E nem respirar da forma correta eles conseguem. E mordem a própria língua, pisam nos pés uns dos outros, dirigem máquinas mortíferas de forma irresponsável, dão porrada em quem não se vê na obrigação de atender às suas expectativas. Julgam, condenam e executam.

Meus amigos ETs acabaram de me mandar uma mensagem. Por telepatia, lógico. Esqueçam celulares, satélites, redes sociais e tais quando quiserem falar com um ET. Eles dizem para que eu pare de falar assim, um tanto duro, sobre os humanos. Eles, os humanos, podem se melindrar. Ser humano adora um melindre. Eles podem se vingar, têm sede de vingança. Digo aos meus amigos ETs que existem humanos legais também. Conheço vários. Que dão bom dia às outras pessoas com a vontade e a energia de quem deseja do fundo da alma que haja realmente um bom dia. Pessoas que praticam bom dia sem precisar postar “bom dia” e caretinhas sorridentes no Facebook. Pessoas que, para que se sintam vitoriosas, não precisam da derrota de ninguém.

Deixo para os meus amigos terrestres a discussão sobre vida fora da Terra, o debate sobre a existência de seres inteligentes em outras galáxias. Abro mão, com muito entusiasmo, das teorias, dos compêndios e dos filmes sobre o tema. Me despeço e vou à procura dos meus amigos ETs. Com eles o papo é sempre sério porque é muito divertido. Ninguém fica blá-blá-blá falando sobre blá-blá-blá a possibilidade de vida inteligente blá-blá-blá na Terra blá-blá-blá.

Mas deixemos de papo que os meus amigos ETs estão aqui para curtir a folia. Quem quiser vê-los é só esperar a terça de Carnaval. Estaremos todos na Banda.

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