Moedas e Curiosidades: “Lazaretos da Colômbia” – Por @SMITHJUDOTEAM

Por José Ricardo Smith

As moedas (fichas) feitas para uso nos leprosários são muito interessantes na numismática, pois foram criadas para serem usadas em condições muito particulares, e na minha busca de itens para minha coleção, adquiri três moedas de 1921, feita de cupro-níquel, dos leprosários Lazaretos da Colômbia. Foi uma cunhagem especial para uso nas três colônias governamentais: Agua de Dios, Caño de Loro e Contratación.

A lepra historicamente tem afetado o subconsciente coletivo das sociedades, levando a alterar o seu comportamento e até mesmo o seu sistema de crenças e valores. A Hanseníase tem acompanhado a humanidade durante milhares de anos em locais conhecidos como leprosários.

Apesar de ser uma doença infecciosa, a Hanseníase não é muito contagiosa. Sabemos hoje em dia que apenas uma pequena parcela dos seres humanos são, suscetíveis à infecção, e isso só ocorre através do contato físico prolongado com pacientes de Hanseníase que não são tratadas. Apesar disso, as pessoas infectadas por essa doença, até pouco tempo eram tratadas como grupo de alto risco epidemiológico. Esta realidade se apresentou em diferentes países, onde as autoridades não hesitaram em mantê-los separados do resto da população nas colônias especiais chamadas de leprosários.

Estes leprosários se tornaram depósitos de doentes, onde 90% morriam, eram enterrados de cabeça para baixo com a crença de que não seriam ressuscitados.

A ignorância sobre a doença forçou a fabricação de moedas, cédulas e o uso de cupons próprios para uso interno nos leprosários. Estes “dinheiros” foram restritos ao uso de quinze países, incluindo o Brasil, que usaram estes meios para efetuar pagamentos dentro dos leprosários. As peças encontradas em coleções como a minha, são como testemunhas silenciosas de uma época marcada pela falta de conhecimento e pelo medo de uma doença, que foi estigmatizada como uma das piores na história da humanidade.

No começo do século XX, a Colômbia era um dos países com maior percentual de lepra no mundo. Essa doença tem origem na Índia e que Carlos Magno levou a Grécia e a África, e entrou na Colômbia pelo porto da cidade de Cartagena e se espalhou por todo o país.

A imagem escolhida para distinguir as moedas dos leprosários colombianos, era a Cruz da Ordem de São Lázaro de Jerusalém, uma cruz octogonal, também chamada de cruz templária ou as oito bem-aventuranças. Foram quase trinta anos em que as moedas circularam pelas mãos dos doentes, que também tiveram que usar uma roupa que os distinguia como leprosos.

* José Ricardo Smith é professor e numismático.

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