Moedas e Curiosidades parte III – “A Revolta da Cabanagem” (parte 01) – Por @SMITHJUDOTEAM

Por José Ricardo Smith

Uma das moedas mais impressionantes da minha coleção são as moedas da Cabanagem, pois elas trazem uma história de lutas e conquistas do povo amazônico, que com seu sangue, suor e lágrimas tentaram se manter fieis ao recém-criado império brasileiro e sair totalmente da dominação portuguesa.

A Cabanagem foi uma revolta do povo da província do Grão Pará na primeira metade do século XIX, desencadeada na madrugada do dia 7 de janeiro de 1835 em Belém, visando à derrubada do governo autoritário e impopular do então presidente Bernardo Lobo de Souza (o “malhado”).

Uma de muitas teorias sobre o termo Cabanagem é que provém de “cabana” (do latim Capanna), nome que ainda hoje se dá a certo tipo de habitação tosca, feita de folhas de palmeira, que servia de moradia de muita gente pobre da região.

O primeiro presidente cabano foi o tenente-coronel Félix Antônio Clemente Malcher, que ficou no poder de 07/01 até 19/02/35, era um latifundiário que enriquecera às custas das leis da Corte, uma das muitas dificuldades que teve no governo era o meio circulante (moedas) bastante escasso e confuso.

Para resolver o problema publicou um “Bando” no dia 14/01/1835, autorizando a aplicação de um carimbo unifacial nas moedas de cobre de 40 e 80 réis feitas em Cuiabá, que por serem falsas ou estarem gastas tinham sido recolhidas no Tesouro da província, e com esse artifício pode colocá-las em circulação novamente.

As moedas com carimbos cabanos passaram a valer apenas nas regiões dominadas pelos revoltosos, e foram chamadas de “moedas cuiabanas”, mas por engano ou outra situação desconhecida, foram carimbadas também moedas LXXX da colônia e moedas feitas em Goiás.

O critério para a utilização do carimbo é que deveria reduzir o valor das moedas em ¼ do seu valor facial, Malcher muito provavelmente teve conhecimento de um carimbo semelhante que tinha ocorrido em 1834 na província do Maranhão, e utilizou o mesmo artifício na província do Grão-Pará.

Não devemos esquecer que a Cabanagem foi um movimento que não encontrava resguardo de outras províncias, e por isso o meio circulante tornava-se escasso, daí a necessidade de valorizar a moeda cabana e desestimular totalmente a evasão destas para outras províncias.

* José Ricardo Smith é professor e numismático.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *