Natal – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

Quando a saudade sobe os degraus do tempo
E vem sentar no mesmo sofá em que Ontens, eu desenhei Amsterdã.
Agora é tempo de balançar os lençóis para que caiam as digitais.
Enquanto os relógios cruzam por várias vezes os anos e os meses, em por várias vezes eu vi Abril se espreguiçar na varanda.
Agora é tempo de sacudir as toalhas para retirar as migalhas de suor e shampoo que cicatrizaram nela.

É tempo de varrer os desencontros…
Por ao sol os desencantos.
Espreitar as lembranças que chegam pelo elevador.
Beliscar as cicatrizes que te mostram saudades caladas.
Voltar ao espelho para olhar de novo os olhares ali espelhados.
Polir os sorrisos para uma nova geração de vida.
Depois sentar a cabeceira de qualquer lugar.
E ver o horizonte se continuar no horizonte.

Em dúvida se teremos a companhia do Sol ou da lua, desenhar… desenhar …
Qualquer coisa azul, imensamente azul.
Pode até chama-la de você… ou dizer-lhe… Eu…
Abrir as portas, as janelas, os portões, as vírgulas, o ponto de exclamação, ruídos de trovões, e por fim silêncios…
Muitos deles são pequenos abismos onde reside coberta de limo, indiferente, a neve, e ao calor sufocante, toda a saudade que com você já teve intimidade.

Poderíamos pensar que foram clonados, um do outro…
Você não deixou ela olhar com paixão seu coração.
Por isso caminhe… volte ao início… desenhe… pode perguntar ao vento… que desenhar…
Ele dirá… A mim!
Ele rodopiará… em torno de seus pensamentos.
E se afastará espremendo nele seu desejo de ser feliz.

Quinta-feira a dor entrará no trem e partirá…

Eu espero o Natal para desenhar libélulas sob a luz descomunal da sua ausência.

*Do livro de Contos “Defronte a Boca da Noite moram os dias de Ontem’ – Rumo Editorial – Luiz Jorge.

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