No Círio da Naza com o Anjo Galahell – Crônica de Ronaldo Rodrigues

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Crônica de Ronaldo Rodrigues
 
“Quando eu for morrer / Vou pedir pra ser outubro / No meio daqueles anjos / Do Círio de Nazaré” (Edyr Proença / Emanuel Mattos)
 
Pois bem. Belém caminhou pelas ruas de Macapá de mãos dadas comigo e com o domingo. Era o Círio de Nazaré, santa protetora dos paraenses, macapaenses, marambaienses, laguinenses, gregos, troianos, baianos e tupis. Todos os peregrinos agarrados à tradição/contradição, desgarrados pelo mundo em cotidiana diáspora.
 
Belém estava tão aqui em Macapá que até choveu. Um pouquinho só, mas que choveu, choveu! E foi na companhia do Anjo Galahell que Maria de Nazaré me abrigou em sua linda berlinda.
 
Depois da procissão propriamente dita/bendita, uma outra procissão se fez, em busca do pato que (paciência. Alguém tem que ser sacrificado…) deveria estar boiando num oceano de tucupi, exalando aquele cheiro que… Bem. Quem sabe, sabe… 
 

E quantas surpresas nos fizeram presas do imponderável, do milagre, da graça da Naza. O pato no tucupi não foi encontrado, estava enfeitando outras mesas. Mas ele não fez falta, já que em seu lugar (milagre da Naza) apareceu uma galinha caipira servida pelas mãos generosas da Zozó, tia do Galahell (sim! Anjos também têm família!) e agora para sempre já incorporada à minha árvore genealógica, é lógico! A galinha de quintal matou nossa fome de justiça e a sabedoria do coração da Zozó é o que a própria Naza teria me ensinado.
 
Belém, de hoje e de outrora, Belém da minha infância aportou definitivamente quando eu e o pastor alemão do rock caminhávamos pelas ruas de Macapá em busca novamente de comida, bebida (caramba! Será que a gente nunca se farta?) e, se não fosse pedir demais, atenção e carinho. Pois foi o que conseguimos, na figura de um astro do passado, o ex-jogador de futebol Mareco, que reconheceu Galahell, elogiou sua verve jornalística e montou a banca para que eu e o anjo nos servíssemos de geladíssima cerveja, o café da manhã dos campeões.
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Fiquei emocionado ao conhecer pessoalmente Mareco, depois de tanto tempo, depois de tê-lo visto em Belém, no final da década de 1970 e começo da década de 1980, nos gramados futebolísticos, eu como espectador, ele como integrante de uma geração que fez a Cidade das Mangueiras ouvir maravilhada o rugido do glorioso Leão Azul, o Clube do Remo.
Uma geração brilhante de jogadores azulinos, como Dico, Edson Cimento, Marinho, Dutra, Darinta, Cuca, Aderson e seu irmão Mêgo (autor dos dois gols inaugurais do Mangueirão), Elias, Mesquita, Bira, Júlio César, o gigante Alcino… E por aí vai. E para ninguém dizer que estou puxando a brasa só pra minha sardinha, já que eu torcia pelo Remo, relembro alguns nomes da galeria de grandes craques que o rival Paysandu também ostentou naquela época: Aldo (irmão do Bira, ambos macapaenses), Patrulheiro, Lupercínio, Heider, Paulo Robson, Careca, Wilfredo, Evandro, Roberto Bacuri, Nilson Diabo, Tuíca, Edésio, Leônidas, Chico Spina e até o Dario – Dadá Maravilha…
 
Égua! Belém da minha infância entrou em campo de novo e o mais legal disso foi constatar que Mareco não tem nem sombra da arrogância que se vê hoje em alguns jogadores. O cara veste a camisa da humildade, o verdadeiro manto dos vencedores.
 
11209527_867490903319378_2704273878952246707_nE para encerrar esta crônica ciriana nazarena, o fim da tarde e o começo da noite foram embalados pelo ritmo irmão do marabaixo, o carimbó. Pinduca, Verequete e outros mestres baixaram no terreiro e deram show, me transportando novamente para Belém e Curuçá, banhando minha alma de açaí.
 
Então diga aí: Belém estava ou não presente no domingo do Círio da Naza, aqui em Macapá? Milagres da Naza e do Anjo Galahell!
 
“Naza / Nazarézinha / Nazaré Rainha / Nazaré Mãe da terra / Mãezinha / Me ajuda a cuidar” (Almirzinho Gabriel).
*Contribuição de 2013 republicada. 

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