Crônica de Ronaldo Rodrigues
Depois da aula, levo a Suzana pra almoçar em casa. Apresento pra ela o Girafa:
– Girafa? O nome dele é Girafa?
– Isso mesmo! Girafa!
– Mas é um cachorro! Não tás vendo que é um cachorro?
– Claro que estou vendo que é um cachorro! É o meu cachorro! Só que o nome dele é Girafa!
– Tudo bem! Eu aceito que o teu cachorro se chame Girafa, mas que é estranho é! E ele nem tem pescoço longo!
– O pescoço longo só é preciso pra ser girafa, não pra se chamar Girafa! Já tive um cachorro chamado Beterraba e ele não era lilás. Nome é assim. Um amigo meu tem um cachorro chamado Cláudio e nunca teve problema com isso. O Cláudio dele é até mais legal que muitos Cláudios por aí!
Aí ela viu a minha tartaruga:
– Olha que legal! Adoro tartaruga!
– Que bacana que tu gostas! Dá um alô pra Suzana aí, ô, Dentuça!
A Suzana me deu aquela mesma olhada de quando apresentei o Girafa:
– Não vai me dizer…
– Que o nome da minha tartaruga é Dentuça? Pode acreditar!
– Assim já é demais! Por que tu não colocas um nome condizente com o bicho?
– Como é que eu vou colocar um nome condizente se eu nem sei o que é condizente?
– Condizente é assim: um cachorro chamado Rex, por exemplo.
– E o que é que Rex tem a ver com cachorro? Se ainda fosse um dinossauro, um tiranossauro, pra ser exato, Rex caía bem.
– Acontece que Rex é um nome tradicional de cachorro. Não sei quem colocou pela primeira vez esse nome, mas pegou. Assim como Totó ou Joly.
– Vamos fazer dessa forma: quando tu tiveres um cachorro, tu colocas um nome comum assim. O meu vai continuar sendo Girafa. E a minha tartaruga vai ser sempre Dentuça.
– Essa mania de contrariar…
Suzana já ia dizer pra gente mudar de assunto, quando viu o meu gato e eu tratei de apresentar o Gaveta.
– Ga… o quê?
– Deixa pra lá! Quero falar de uma coisa, já que o assunto é nome. Tu sabes qual é a cor da caixa preta dos aviões?
– É preta, claro!
– Claro que não! É laranja! E o minuto de silêncio, tem um minuto? Não tem mais do que 15 segundos! E o Chico Buarque de Holanda, que é do Brasil?
– Onde é que tu queres chegar?
– Só quero dizer que, às vezes, o nome não tem muito a ver com a coisa nomeada. O mundo é assim. Por isso eu coloco os nomes dos meus bichos sem essa necessidade de ser… condizente.
A Suzana de uma maneirada nas críticas e falou com ternura:
– Taí uma lição que eu aprendi. Acho até que vou aceitar o teu pedido de namoro…
– Aceita logo, que eu já tô sentido uma coisa aqui dentro que não sei o nome.
– Eu sei exatamente qual é o nome!
– Claro! É amor!
– Não, bobo! É fome! Vamos comer que é melhor!