O cara que queria ser dono da Lua (conto de Elton Tavares)

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Era uma vez (só pra “clichezar” mesmo) um cara que, de tão arrogante, audacioso, impetuoso e imbecil, quis ser o dono da Lua. O maluco se acha o Sol. Há tempos ele a observava e a admirava. Ela sempre teve um brilho diferente. Assim era a Lua, que de tanta velocidade imaginativa, não dormia, e ele nem sabia ainda.

Ele curtia todas as suas faces. Podia ser Lua de São Jorge, de Caetano, Lua Bonita, de Raul Seixas ou somente o “Reflejo de Luna”, do Paco de Lucia. Era realmente fascinante.

Quando a Lua apareceu, ninguém sonhava mais do que eu”, disse o tal Sol. E seguiu a cortejá-la: “Como nunca se mostra o outro lado da Lua, eu desejo viajar no outro lado da sua” ou “O sol veio avisar que de noite ele seria a Lua”. Coisas desse tipo. E conseguiu sua atenção. Parece que ela até gostou.

Ele a via como disse Fernando Canto: “Como a Lua grande, que gasta seu brilho imenso todos os meses sobre o Equador, no meio do mundo”.

Tendo a Lua, como disseram os Paralamas, ele fez Moonlight Serenade (que nem Glenn Miller), mas luar21hoje está mais para Luar do Sertão, de Luiz Gonzaga e The Killing Moon, dos ingleses do Echo And The Bunnymen.

Sim, o homem que se achava o Sol, pisou na Lua e até morou nela por um tempo feliz. Mas ele não leu em um poema da Juçara, que “A Lua não é de ninguém, pertence aos casados, aos namorados, aos arrasados, aos cantores e ao violão”. Só que ela até tinha avisado que, assim como Cecília Meireiles (e ele), tinha fases, como a Lua.

Ele tentou dominá-la e a Lua, que também é aluada, revidou. Nem um dos dois entenderam a mensagem de Bob Marley, na frase “Seja humilde, pois, até o Sol, com toda sua grandeza, se põe e deixa a lua brilhar“.

Sol ainda lembra quando ele e a Lua foram grandes amigos. Às vezes, até no espaço (ou será tempo?), o destino dá um nó(s), mas a lição é que sempre devemos desejar a liberdade a todo custo ou em qualquer Lua.

Agora, ele é como o Astronauta de Mármore, e vê “A Lua como um manto negro”, mas a falta de brilho é só saudade. Se é que se pode dizer “só”. Alguns dizem que o Sol enlouquece bêbado e uiva pra Lua até hoje, mas em silêncio.Lua

Sem vitimismo ou guerra, Sol pensa nisso tudo como explicou o sábio Drummond “Sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de pessoas que passaram por ela”. Eles nunca foram os mesmos, pois vira e mexe, vomitam escritos de quase profundo arrependimento. Sem, coragem, sabotam a si próprios.

Sol vive preso numa fenda no tempo, ancorado num mar de memórias por muitas luas. Mas luta pra zarpar, pois como disse o sabido Nelson Cavaquinho: “Eu só errei quando juntei minh´alma à sua. O Sol não pode viver perto da Lua”. Caramba! Existe vida em Marte?

Elton Tavares

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