O Dia que o Godão morreu (crônica escrita há exatamente 1 ano – Por @hccintia )

Por Cíntia Souza


O nó na garganta deixou meu o corpo mole. Acordei de luto. A tristeza é algo que enfraquece de dentro pra fora, sem te dar chance de reagir. “Foi de repente”, “Eu falei com ele ontem”, “Disseram que foi o coração… Mas também, mano!”, “É! A boemia tem preço”.

Meu amigo morreu.  Meu parceiro morreu e a gente nunca viajou junto, digo, ao menos não para outros lugares. Por isso não quero ficar com as lembranças, muito menos pirar com aquela lista de tudo o que não fizemos ou me punir por não saber aproveitar melhor o nosso tempo. Só a ideia me irrita. Tá certo! Tenho problemas com a morte. Invejo kardecistas. Eles são tão serenos na hora da passagem. Eu acho que eles fingem. 

Godão, Godão, se você estivesse aqui com certeza iria tirar um barato. O povo chorando, contando histórias, rindo, contando histórias e chorando. Interessante, todos têm algo para contar. E agora, como eu vou saber qual parte dessa biografia é real? Vai virar lenda, hein. É melhor deixar quieto. 


Além dos amados, da família firme e forte, será que você imaginaria que fulano viria até aqui? Beltrano também veio! Vixe… foram muitos encontros e desencontros. Eu queria que você pudesse ver isso. Tenho certeza que já imaginou o próprio funeral. Afinal, quem nunca?

Não faz muito tempo, talvez haja dois ou três meses, você postou algo sobre a sua rotina no trabalho e eu comentei citando a letra de uma música que a gente curte: “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”, e você emendou, “Eu te desejo muitos amigos, mas que em um você possa confiar”.

Sobre essa coisa da morte repentina, sabe o que mais revolta? A gente nunca foi do tipo que compartilha frases de Caio Fernando Abreu no facebook. A gente vivia na vera. E como vivia. Éramos Carpe Diem total! E, não sei se pelo fato de sermos jornalistas, mas fazíamos questão de registrar tudo. Tinha quem nos considerasse exibicionistas. Comédia! É injustiça tirar a vida daqueles que tentam aproveitá-la ao máximo. É isso o que revolta! E nós sabíamos aproveitar a vida como poucos.

Não sei por que conjuguei o verbo no passado. Afinal tudo isso foi apenas um sonho. Acordei fraca, com sede e com aquela aflição entranhada na alma. Passei a manhã pensando se aquele sonho teria algum sentindo, um significado especifico. Não encontrei nada até agora. Mas, ainda durante a manhã falei contigo in box, e te fiz me prometer que não vais morrer. Você jurou. 

O fato é que as pessoas morrem. Para quê, né?! Mas acontece. E sempre foi assim desde o começo. Dizem que teve um cara que foi e voltou, rasgou o véu, desceu a mansão dos mortos, mas depois ninguém nunca mais o viu. Há quem espere seu retorno. 

Daí eu fico pensando se há uma solução para isso. Mas não sei se queria ver alguém retornar do lado de lá… Creio na cruz!

A jornalista Cíntia Souza é uma querida amiga deste blogueiro. Ela escreveu essa crônica após eu pensar que ia levar o farelo, depois de um mal estar súbito, em 2013. 

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