O Filme da Minha Vida – Minha resenha sobre essa nova linda obra do cinema nacional

Todos dizem que adaptações literárias para o cinema distorcem negativamente a obra em relação a película. Este não é o caso de “O Filme da Minha Vida”, com direção e roteiro de Selton Melo. O novo longa-metragem brasileiro é baseado no livro ‘Um Pai de Cinema’, obra do escritor chileno Antonio Skármeta.

Imagine uma estrada que leva e que traz pessoas a uma história. Agora, imagine uma história que conduza a um filme nacional, adaptado de uma obra chilena. Ou seja, um longa-metragem latino americano. Uma viagem cinematográfica sensacional!

Com excelentes películas, o Filme da Minha Vida, trabalha imagens, sons e delicadeza poético-literário de um Brasil no remanso gaúcho da década de 60, onde o charme de uma natureza entrecortada pelos trilhos do trem e pelas vidas humanas, conduz a um texto poético, com fotografia perfeita e trilha sonora francesa tocante (espetacular!).

Na película, Tony Terranova (interpretado pelo ator Johnny Massaro), passeia por estes trilhos de trem, atormentado por acontecimentos recentes, memórias de sua infância e a partida de seu pai, mesclando os sentimentos de espectador entre um “…Quem vai chorar, quem vai sorrir? Quem vai ficar, quem vai partir?…”

Aliás, a figura do maquinista, interpretado pelo sábio Giuseppe (Rolando Boldrin, de volta aos cinemas após 20 anos), uma espécie de “Vigia” da Marvel, que tudo observa e sabe, mas não interfere, é bem comovente.

Entre suas viagens nessa antiga ferrovia do Rio Grande do Sul, entre as cidades de Fronteira e Remanso, o jovem trafega em busca de amor e explicações para seus dilemas juvenis. Aliás, Tony Terranova tem um jeito Bob Dylan de se vestir, fumar, entre outras coisas legais do maior poeta da gringa.

O protagonista, professor de francês, também possui dons literários e escreve, para seu pai, uma das cartas mais lindas de que já tive notícia. Dá até aquela invejazinha com o sentimento de que “eu queria ter escrito isso”.

Aliás, alguns personagens são bem marcantes na história. Seu pai, interpretado pelo francês Nicholas (Vicent Cassel), um daqueles pais míticos, que despertam nossas saudades crônicas na parede da memória. A cena da bicicleta desperta isso com maestria. Já sua mãe, a trabalhadora e abandonada Sofia (Ondina Clais), é uma mulher forte e prática.

Selton Mello é Paco, um amigo da família nitidamente interessado em Sofia e que boicota uma possível reaproximação família. Na verdade, é um sujeito grosseiro, mal intencionado, mas com um papel importante na trama.

A família madeira empresta três personagens fundamentais para a história: a sedutora Petra (Bia Arantes), vencedora de concursos de beleza que inspira as garotas e mexe com o imaginário dos garotos da cidade; a sonhadora, fotógrafa e apaixonada Luna (Bruna Linzmeyer), que faz par com Tony e nos inspira a torcer pelo casal.

Além do jovem Augusto (João Prates), moleque com quase 15 anos que tem como lema a música da Banda Raimundos: “foi num puteiro em João Pessoa que descobri que a vida é boa, foi minha primeira vez”. Isso nos braços Camélia (Martha Nowill), a puta mais conhecedora de geografia que vi no cinema.

O próprio Antonio Skármeta faz uma participação no filme. O escritor é Eseban Copetta, o dono do prostíbulo, que conversa com Paco. Durante o papo, regado a birita e quase amanhecendo, ele conta que venceu a morte em um corrida de bicicleta, o que o tornou imortal, por enquanto.

O Filme da Minha Vida é uma história sobre relações afetivas. Sobre como nos decepcionamos, como erramos e como nos reerguemos para poder viver felizes.

Selton Mello, sua produtora Vânia Catani, Johnny Massaro e restante do elenco, além da equipe que filmou o longa, estão de parabéns por nos ter dado esse presente. Pois o Filme da Minha Vida é uma luz envelhecida que ilumina estes dias obscuros em que vivemos neste Brasil. Com história fantástica, roteiro sensacional, o filme é lindo, leve e emocionante.

Pois bem, acontece que alguns filmes são experiências de vida. Estes, em especial, são tão pessoais que a gente se emociona com a trama. É o caso do Filme da Minha Vida, que fala de relações de amor, familiares e muita memória afetiva. Eu recomendo!

Elton Tavares, com auxilio de Jaci Rocha.

Assista o trailer do filme:

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