Na Serra do Navio, a Vitória e o Cid foram a uma lanchonete. O Cid pediu logo o seu clássico X-frango. Não tinha, não senhor. Perguntou pelo cardápio, e claro: não tinha, não senhor.
– Só tem hambúrguer.
– Então eu quero dois.
A Vitória arrumou os óculos e pediu:
– Eu quero um, mas sem carne.
O mundo, o tempo e a noção de tudo o que sempre foi real pararam por uns instantes na percepção do senhor chapeiro.
Mais silêncio.
– Mas… hambúrguer é hambúrguer. Sem a carne, é… bem, não é hambúrguer.
– Beleza. É isso que eu quero.
– O que?
– Um hambúrguer sem a carne.
Silêncio muito incômodo. Longo, palpável. Uma experiência quase espacial, mesmo sem saber o que é isso. Mas grandioso, insosso, ignorante, uma prova gigantesca, mas que seja; a idéia foi passada.
– É isso mesmo, senhor. Um sanduíche, e sem a carne. – rindo.
“Sanduíche?” – ele pensou, com sua espátula.
– Ah, então não é um hambúrguer que a senhora quer! Vai então um xis burguer?
Fausto Suzuki
Fonte: http://para-grafos.blogspot.com.br/2012/04/o-lanche.html