O que os Mamonas Assassinas faziam no meu sonho? – Crônica de Ronaldo Rodrigues

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

Eles estavam lá, no meu sonho. Os Mamonas Assassinas, os quatro. Aí, você que viveu bem a fase Mamonas Assassinas vai dizer: – Mas eram cinco!

Pois é. No meu sonho, os Mamonas eram quatro. E era como se eles tivessem sido quatro mesmo, porque ninguém mencionou ou sentiu falta de um quinto Mamona. Mas vamos ao sonho:

Estava eu lá em casa, ouvindo um som que não era deles, quando chegaram. Fisicamente, eles não correspondiam em nada aos que eu vi na TV, mas sonho é assim mesmo. Não questionei o fato de eles estarem ali em casa. Não estranhei que eles, estando na minha casa, contrariava o fato de que eles não existiam mais. Nada disso foi falado e eu disse que alguns shows foram feitos em homenagem a eles. O Dinho, ou o ator no sonho que fazia o papel do Dinho, disse que isso era comum, que havia muitas bandas cover dos Mamonas Assassinas. Mas não ficou claro que os shows citados eram homenagens póstumas.

Os Mamonas do meu sonho não eram alegres como foram os da vida real. Isso me deixou um tanto inquieto. Cheguei a duvidar de que se tratava mesmo deles, mas de repente esqueci essa dúvida se tinham ou não morrido, se eu estava ou não sonhando, e os aceitei vivos, bem ali, no meio da minha sala. Pedi pra que eles ficassem à vontade e peguei minha bicicleta. Saí pedalando pela cidade com a intenção de contar aquela história com jeito de mentira para o maior número de pessoas. Me dirigi a uma casa que eu costumava frequentar e que estava sempre cheia. Tinha festa quase todo dia e, quando não estava rolando uma balada, tinha gente programando as próximas festas. Quase toda a cidade frequentava aquele recinto e a minha surpresa foi imensa quando vi apenas uma senhora lá dentro, dizendo melancolicamente que todos tinham ido embora. Subi na bicicleta e deixei a mulher envolvida em brumas, acenando pra mim, como um sonho dentro do sonho.

Já que aquele local de encontro de tantas pessoas estava fechado para a minha vontade de compartilhar uma notícia que eu acreditava grandiosa, apesar de absurda, totalmente surreal, pensei num lugar tão frequentado quanto o outro: o Espaço Caos Arte e Cultura, que deveria estar fervilhando de gente. Rumei pra lá, imaginando a reação da galera:
– Como assim? Mamonas Assassinas?
– Na tua casa? Té doidé?
– Tua casa fica no centro espírita, por acaso?
– É aquela fita: não sabe nem mentir! Os Mamonas morreram em 1996, no século passado!

Cheguei ao Caos e vi que também estava fechado, com uma placa na porta de entrada dizendo que todas as atividades artístico-culturais estavam suspensas por tempo indeterminado.

Voltei pra casa totalmente frustrado. Estava com um belo plano na cabeça: sugerir ao pessoal do Caos um grande show, o maior de todos, promovendo a volta triunfal dos Mamonas Assassinas. Seria um arraso, né não? Um evento do outro mundo!

Quando cheguei à esquina de minha casa, vi os Mamonas atravessando a rua na faixa de pedestre, fazendo pose de Beatles, na famosa capa do disco Abbey Road. Aí, eu acordei e os Mamonas Assassinas, agora no número certo, cinco, voltaram a compor uma realidade de 20 anos atrás, quando eu e os Mamonas Assassinas estávamos vivos, ativos e alegres.

Questão levantada pelo meu amigo e escritor Billy The Podre: será que a casa em que foste e o Espaço Caos estavam vazios por que tu também estavas morto, portanto em outra dimensão? Eu disse: – Mas na casa tinha uma senhora. Ele disse: – Ela devia também estar morta, por isso tu viste. Eu disse: – É mesmo. Boa questão. Quem sabe pra uma próxima crônica.

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