O Século 21 atinge a maioridade – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Em 2018, o Século 21 estará pronto para seguir vida de adulto. Vai ganhar as chaves de casa, vai poder ingerir drogas lícitas e vai conquistar o direito obrigatório de eleger presidentes do naipe de Donald Trump. Vai poder beber, dirigir e matar pessoas pelas ruas. Vai procurar emprego ou entrar nas estatísticas crescentes do desemprego. Vai poder ser preso por suas atitudes (ou não, dependendo do peso da carteirada).

O Século 21 vai poder confirmar que maioridade não tem nada a ver com maturidade e pedir a volta da ditadura militar e a oficialização do trabalho escravo.

Pelo enguiçar da carruagem, com 18 anos, o Século 21 estará mais careta do que as últimas décadas do Século 20, quando a cannabis e a música eram de verdade. Eu espero sempre que o atual século se toque em algum momento e nos faça acreditar em algo positivo desse rito de passagem. Mas a tendência é pensar que o Século 21 vai continuar ressuscitando questões que já estavam resolvidas, acalentando debates que já não fazem mais sentido e praticando, com mais truculência, preconceitos que achávamos já estarem sepultados.

O Século 21, agora dono de seu nariz empinado, pode se considerar o Rei do Mundo, com o seu arsenal de parafernálias eletrônicas para se comunicar e levar a julgamento e executar aqueles que não concordam com seus pontos de vista míopes. Pode denominar alguém de comunista sem que tenha qualquer ideia do que isso signifique. Pode dar sua opinião desastrosa sobre a crise do Oriente Médio, duvidar do aquecimento global, exigir o fechamento das fronteiras aos refugiados, boicotar manifestações artísticas e se perder no equívoco das discussões sobre direita e esquerda. Isso tudo o Século 21 já está fazendo, mas agora terá a chancela da Carteira de Identidade o capacitando para perpetrar todo tipo de tolice.

Você pode dizer que estou pintando um quadro tenebroso do jovem Século 21 e eu concordo. A maioridade do Século 21 coincide com o retrocesso do ser humano, a formação de exércitos nazistas, a volta dos tribunais da Inquisição, a arrogância e a violência atingindo índices estratosféricos, os mísseis prontos a serem lançados para destruir o pouco da paz que foi conquistada nos séculos anteriores.

Mas, como sou devoto da esperança, penso que as pessoas de boa vontade poderão resistir e mudar o rumo do que se apresenta hoje. Podemos fazer o décimo oitavo ano do Século 21 atingir a maioridade da consciência, do amor ao próximo e à natureza, do nosso compromisso com a continuação da caminhada do gênero humano sobre este planeta. Afinal, sonhar é o que nos mantém acordados.

Feliz aniversário, Século 21! Vamos nos esforçar para fazer um ano novo, e tudo o que virá depois, realmente feliz!

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