Orgasmos múltiplos em 2019 – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Erupção vulcânica sempre me fez pensar que se trata de um orgasmo que o planeta atinge de vez em quando. Para quem conta com vários bilhões de anos, até que o planeta está se garantindo, já que existem pessoas que passam a vida inteira sem saber que porra é essa de orgasmo. Agora, por exemplo, a Terra está em êxtase, atingindo orgasmos múltiplos na Indonésia, com o Krakatoa, e na Itália, com o velho Etna.

Se o orgasmo do planeta não fodesse com a vida de tanta gente, seria um espetáculo a se louvar, mas as calamidades que vêm na rasteira do gozo mundial são devastadoras e fazer piada sobre isso é o fim da picada. E para terminar este parágrafo piadístico, digo que gozo pra valer é assim mesmo, que nem o da Terra: não fica pedra sobre pedra.

A questão é que, quando penso no nosso querido planeta (não tão querido assim, a julgar pelas atitudes da maioria das pessoas), vem toda aquela curiosidade que as aulas de Geografia e Ciências despertavam nos meus tempos de estudante imberbe, ainda virgem de sexo, drogas e rock ‘n‘ roll.

Buracos negros, galáxias, nebulosas, velocidade do som e da luz foram coisas que estudei em Geografia e Ciências e que ainda hoje me encantam. Uma vez, meu professor de Ciências discorreu longamente sobre o fato de a gente ter sombra, que parece banal, mas é algo que pertence à pessoa de forma definitiva. “Quando tudo te faltar”, dizia meu profe, “família, amigos, a pessoa amada, casa, emprego… sempre haverá a tua sombra. É algo que ninguém é capaz de te tirar”. Parece banal, já disse antes, mas o profe tinha razão. Ainda hoje prezo essa informação e acho o máximo alguém ter uma sombra só sua sem que outro alguém tenha a remota possibilidade de adquiri-la, mesmo num momento de falta de grana, o que prova que existem coisas que dinheiro não compra.

É verdade que cada vez menos pessoas se interessam por Geografia, Ciências ou qualquer coisa que tenha real importância. História, então, nem se fala, é uma matéria em extinção, o que aponta a extinção do próprio ser humano. Ainda mais com o próximo governo que, ao que tudo indica, vai implantar a ditadura da burrice ampla, geral e irrestrita e revogar a queda da Bastilha, o grito do Ipiranga e a abolição da escravatura. Mas isso são especulações que o mercado financeiro, que é quem manda na porra toda, não apoia de jeito nenhum, a não ser que role uns caraminguás por fora.

Agora, mudando de assunto e permanecendo no mesmo, lá vem 2019 com toda aquela carga de fim/começo de ciclo, aquela euforia de que vale a pena o recomeço. No fim do ano, só me vem à cabeça a imagem dos indefectíveis maratonistas quenianos mandando ver na corrida de São Silvestre. Já ficou até sem graça aquela piada de que os quenianos são top em corrida porque treinam com gazelas e guepardos. E aí vem novamente a importância da Geografia, já que precisamos nos certificar se a região da África em que o Quênia se situa seja também o habitat de gazelas e guepardos.

Esta crônica é para me despedir de 2018 e dar um salve a 2019. Que as crises anunciadas para o próximo ano também passem rápidas, velozes, que nem os quenianos. Que as tsunamis não nos derrubem. Que os orgasmos do planeta sejam destinados à realização dos nossos desejos. Que a Terra continue seu caminho rumo à luz que ainda resta na humanidade e que um dia inundará de felicidade todo o universo.

Felizes orgasmos em 2019! Use sem moderação!

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