PAULO TARSO E OS POEMAS DE AÇO (*)

Há 32 anos tive o privilégio de apresentar o livro “Poemas de Aço” do então jovem e talentoso poeta Paulo Tarso. Eu dizia que “apresentar um poeta, um livro de poesia ao público, é um trabalho de responsabilidade, sobretudo em Macapá, onde os movimentos literários não são tão intensos, mas a crítica é feroz e ávida por novos escritos. A isto se justifica a constante luta dos autores que batalham para ver os seus trabalhos publicados, em que pesem as distorções e a pressa de alguns mais afoitos, que trazem no que escrevem uma carga muito grande de falta de qualidade, de experiência de vida e de vivência literária.

Como autor, garanto que não é tão fácil propor um trabalho que venha a ter imediata aceitação ou que os caminhos percorridos desde a concepção dos versos ou da prosa foram perfumados, e que não tiveram obstáculos de alguma origem. Não obstante o passado recente, quando a censura cerceava criações artísticas de alto nível, os artistas não se intimidaram e foram à luta, desatrelando-se daquilo que podia tê-los como um compromisso histórico, com homens e regime espúrio. Daí é que com a mudança do sistema político, muita coisa também mudou. Horizontes se descortinaram e, apesar das dificuldades do estado gerir não mais por si só a questão cultural, entramos numa nova época onde já se percebe um maior entrosamento dos setores governamentais com a classe artística e com os movimentos populares. À luz da ideia de que a arte vem do povo clareou e assim o leme do barco tomou um rumo diferente, mesmo que saibamos que ainda navegamos em meandros.

Vinda do povo, da sua atávica sabedoria e das suas entranhas, a poesia não só nasce da linguagem como vive do aprimoramento desta e que por si só representa, também, o pensamento de muitos mesmo que hermética para alguns.

Mas apresentar Paulo tarso Barros para mim não só é responsabilidade, é motivo de orgulho, pois a sua humildade e talento coalescem, fundem-se como o aço derretido que endureceu seus poemas há tempos, desde a adolescência na terra de Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, de onde veio para enriquecer mais, como outros, a literatura aqui produzida.

Natural de Vitória do Mearim, onde nasceu a 29 de agosto de 1961, lá estudou e participou da sua vida política e cultural, escrevendo peças teatrais, letras de músicas, literatura de cordel e contos. Publicou seus primeiros trabalhos em jornais de São Luís e de sua cidade. Em 1981 mudou-se para Macapá e aqui trabalhou no comércio, tendo estudado no Colégio Amapaense. Colaborou com poesias, contos e crônicas em jornais locais e em março de 1986, publicou sua primeira coletânea de poemas intitulada No Dentro de Mim, que recebeu ótima aceitação dos leitores e da crítica de seu estado e de Macapá.

Sobre “Poemas de Aço” talvez não seja necessário dizer que é um livro forte, poema que “vem da oficina metálica”, no dizer do autor. É um trabalho filosófico e maduro. Nele, Paulo Tarso não sintetiza, expande o mais virtual gesto operário para uma situação universal, tangendo a sofreguidão e a angústia de quem faz algo útil, de quem trabalha num afinado canto proletário, cavando a profundeza dos dias. Por ser social, logo abrangente, a poesia deste nordestino que às vezes reclama de solidão se descreve atônita ao sentir um novo mundo ou “apenas um rosto”. Dono de uma sensibilidade admirável o poeta diz que “Em todos os amanheceres menores somos”. E, por ter a certeza que de que não entregará sua vida para um abismo qualquer, eu dizia àquela época que Paulo Tarso “poderá deslanchar futuramente como um escritor de grande valor, pois não procura desesperadamente caminhos, mas ensina por veredas diversas que há um destino a ser encontrado.

(*) publicado em 2004. JD.

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