Pega ladrão! – Crônica de Ronaldo Rodrigues

 

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

Você pode muito bem morar no país ideal e nunca ter ouvido falar em ladrão. Pra você eu explico: ladrão é aquele ser que, sem a menor intenção de devolver, empresta algo de alguém. A esse empréstimo se dá o nome de roubo. A pessoa pode ser roubada de três maneiras:

1 – Através de descuido. O ladrão se aproveita de um momento de distração da vítima. A pessoa só vai saber que foi roubada depois. A essa modalidade de roubo se dá o nome de furto.

2 – Através de coação, quando o ladrão anuncia a sua intenção e faz ameaça, usando geralmente algum objeto contundente, como revólver ou faca. A isso se dá o nome de assalto.

3 – Através de persuasão, quando alguém rouba o voto de alguém. Acontece quando o candidato a alguma coisa oferece dinheiro, um objeto qualquer ou algum tipo de vantagem. Esse roubo pode ser o mais trágico, porque incide diretamente sobre a consciência da pessoa.

Ladrão de galinha pode ser preso imediatamente. Ladrão de dinheiro público pode comprar os melhores advogados para defendê-lo, que vai obter todo tipo de habeas-corpus e fazer o processo se estender até caducar. Se esse ladrão for condenado, vai cumprir a pena em regime semiaberto ou numa penitenciária com um padrão de conforto que trará indignação a qualquer pessoa honesta.

Antigamente, existia um código de honra entre ladrões em que os delatores não tinham perdão. Dedurar, caguetar, entregar um irmão de, digamos, profissão era o pior tipo de crime que poderia haver. Hoje, a delação é premiada.

Mas por que mesmo que estou escrevendo tudo isso? Ah, sim! É uma introdução (ui!) ao assunto das três histórias que vou contar. Agora vou roubar um pouco da paciência de vocês e passar às histórias, com a bênção de Dimas, o bom ladrão, que foi crucificado ao lado de Jesus e que rendeu graças ao Salvador, ao contrário do mal ladrão, cujo nome não foi preservado (ou foi e eu estou com preguiça de ir lá ao Novo Testamento conferir).

1
O ladrão apontou a arma para a cara da vítima:
– Vai passando a grana, meu! E rápido! Passa tudo o que tu tens! Bora, meu irmão!

A vítima abriu a carteira e retirou dez notas de cem reais. Os olhos do ladrão brilharam:
– Égua! Gostei! Posso até suspender o expediente por hoje! Valeu, mano!

E saiu correndo para um lado, enquanto o assaltado saía correndo para o outro. Na corrida, olhou pra trás e falou gritando:
– Mas tem uma coisa que tenho que te contar: este revolver é de brinquedo!

O outro continuou correndo pra longe do perigo e respondeu:
– Tudo bem! O dinheiro que te dei também é falso!

2
O ladrão encostou a bicicleta que acabara de roubar e foi tomar um refri. Quando pegou a latinha e começou a beber, alguém o avisou:
– Olha! Levaram tua bike! Aqui não dá pra se distrair! Os caras roubam mesmo!

O ladrão 2, que roubou a bike que já era produto de roubo, se distanciava a grande velocidade, mas o ladrão 1 saiu correndo no encalço do ladrão 2. Enquanto corria, gritava uma coisa que só foi entendida pelo ladrão 2 quando este colidiu com um caminhão, se arrebentou todo e foi preso em seguida. Parecia que o ladrão 1 queria reaver a bike e dar porrada no ladrão 2, mas o que o levou a correr tanto foi a solidariedade entre ladrões:
– Porra! Bem que eu tentei avisar que a bicicleta tá sem freio…

3
Desempregado há três meses, o cara já estava desesperado. Ele sempre foi um exemplo de honestidade e aquela missão só foi possível depois de madrugadas inteiras em claro, pensando, remoendo se aquela era a alternativa correta. Correta não era, mas era a única que se apresentava.

Então ele se armou de coragem e de um revólver de brinquedo e partiu para assaltar um escritório no centro da cidade, bem longe do seu subúrbio. Entrou no escritório e ficou na sala de espera, suando frio, sentindo medo, pensando desistir/não desistir/desistir/não desistir…

Resoluto, se levantou e se dirigiu à secretária. Ia exigir que ela o levasse ao chefe; obrigaria o chefe a mostrar onde estava o dinheiro; levaria tudo e compraria comida para a família. Foi quando notou um cartaz na parede, bem acima da secretária: “Precisa-se de um office-boy”.

Saiu de lá empregado. E mantendo a tão cara honestidade.

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