Penumbra colorida – Pequeno Conto Poético de Luiz Jorge Ferreira

Pequeno Conto Poético de Luiz Jorge Ferreira

Enquanto mamãe lava a roupa usada na Quarta-feira, quando fomos ao rio assistir o balé do cio dos Botos.
Meu pai morre na sala, em pleno o jogo da Seleção do Haiti…
Na Praça em frente eu encontro um jeito de colocar LED na luz dos Vagalumes.
Enquanto a lua prenhe no Sexto Mês, tece com pétalas de Rosa , roupas para a estrela anã.
No portão, meu terceiro irmão seleciona cantos de Pintassilgos e Curiós, todos uníssonos na terceira voz…habitualmente usada por Tenores, nos Canticos Natalinos.

Doutro lado da cidade, a eternidade recebe meu pai de braços abertos…
Ele pensa em voltar para vir buscar os chinelos, fechar a porta da geladeira, por a tampa da Bic no lugar, aspergir um pouco de Desodorante Phebo, sob as axilas, pode ser que haja fila, e o clima parece que vai esquentar, há também a luz do banheiro acesa, a descarga por acionar, e um pouco de café derramado na toalha bordada sobre a mesa, e muita saudade no corredor.

Um pouco depois da Praça, estranhamente desligada de tudo, a vida caminha com sua bengala de velhinha, chutando polens, cuspindo saliva perfumada, desconhece a próxima visita, e o próximo endereço, caminha de braços dados com a morte, ambas tem tanto em comum.
Ela para e escreve na areia molhada.
…Essas pinceladas com cores do passado…mexem demais.
A morte sisuda até então, a lê.
E morre de rir.

*Osasco – São Paulo – 24.02.2021

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