Os bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Campus Oiapoque, lançaram a campanha ‘COVID-19 entre os povos indígenas do Amapá e norte do Pará’. O objetivo é compartilhar relatos dos integrantes do grupo e de indígenas sobre como a pandemia tem afetado suas vidas e seus familiares, por meio das redes sociais. Conheça: https://www.facebook.com/petindigenaunifap/
Sobre a campanha
Com o avanço do Novo Coronavírus no Estado do Amapá, estudantes indígenas do Campus Oiapoque retornaram para suas aldeias para se prevenir do contágio. De acordo com a Tutora do PET- Indígena, Profa. Dra. Elisandra Barros, as medidas para conter a transmissão do vírus afetaram o cotidiano nas aldeias, que mesmo distante da capital Macapá, que apresenta as maiores incidências de casos positivos para a COVID-19, estão sendo atingidas.
“Nós achamos que seria interessante relatar como a vida dos indígenas está sendo alterada, mesmo numa aldeia. Então pensamos em dar voz para que eles possam relatar de que forma esse cotidiano foi alterado”, explica a professora. Diariamente são compartilhados depoimentos dos bolsistas indígenas do grupo PET-indígena na página do Facebook do grupo, com narrativas que contam como estão enfrentando a pandemia.
Depoimentos
As experiências compartilhadas dos estudantes descrevem as dificuldades dos povos indígenas. A cada relato surge um problema diferente que afeta a todos. Entre eles a falta de estrutura dos postos de saúde para comportar as famílias dessas regiões e o acesso escasso aos meios de comunicação para manter contato com familiares e inclusive para uso em casos de emergência. A tutora dos bolsistas pontua que “só têm acesso à internet depois das 15h, quando o motor das aldeias maiores é ligado, outros somente depois das 19h”.
Com o isolamento social, nos relatos a maioria dos estudantes descreve as dificuldades para garantir os mantimentos necessários para suas casas, pois não podem ir até os bancos da cidade para sacar dinheiro, e recorrem à agricultura. Davi Marworno do povo Galibi-Marworno comenta que com o registro dos primeiros casos confirmados da COVID-19 no Oiapoque há aproximadamente uma semana, a preocupação dos indígenas aumenta.
“Com os relatos buscamos estabelecer um diálogo e a conscientização por meio das redes sociais para que as pessoas possam ver nós indígenas com um olhar diferenciado”, reforça o estudante.
Conforme avança os casos da doença nas aldeias, a proposta é propagar os relatos para despertar a atenção dos representantes e mobilizar as pessoas sobre as dificuldades dos indígenas. Além dos depoimentos dos petianos, serão divulgados também de representantes indígenas, Caciques, para intensificar o pedido de ajuda.
Repercussão
Os relatos têm repercutido além das fronteiras do Município de Oiapoque. Com a possibilidade de expandir essas histórias, o grupo PET- Indígena conta com o apoio de voluntários da UNIFAP para traduzir os depoimentos.
A participação dos voluntários foi espontânea, a princípio visando atender a demanda dos franceses que acessavam a página. A tutora contatou com a Coordenação de Mobilidade Internacional, da Pró-Reitoria de Cooperação e Relações Interinstitucionais (PROCRI) para ajudar na tradução, com auxílio de estudantes. “Começamos a ver que a página estava sendo acessada pelos EUA (Estados Unidos da América), e então pensamos no inglês. Um dos voluntários achou interessante fazer também em espanhol, e permaneceram essas línguas”, ressalta a professora Elissandra.
São 12 voluntários, que somaram na iniciativa, com 3 equipes que realizam traduções para o francês, inglês e espanhol. Os textos divulgados, diariamente, estão disponíveis em 3 idiomas e também na língua indígena.
Sobre o PET- Indígena
O grupo PET – Conexões de Saberes “Língua, Cultura, Identidade e Educação Indígena”, realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária na área de língua, cultura, identidade e educação, desenvolvida por estudantes com orientações da tutora responsável por coordenar as atividades desempenhadas.
O objetivo é estabelecer a relação entre os saberes indígenas e os conhecimentos construídos na universidade, de modo a valorizar e disseminar a cultura e os conhecimentos indígenas.
Ao todo fazem parte do PET- Indígena 12 bolsistas e 2 voluntários, selecionados por meio de edital. Entre os selecionados estão indígenas Apalai, Karipuna, Galibi-Marworno e Palikur-Arukwayene.
Durante o período de isolamento social, além dos relatos compartilhados, os bolsistas mantêm a realização de transcrição e tradução de narrativas tradicionais, estudam e fazem os fichamentos de biografias encaminhadas pela tutora.
Porém, com o pouco acesso à internet, as atividades são encaminhadas dentro das possibilidades. “O ensino á distância não é uma realidade no Amapá, muito menos no Oiapoque e nas aldeias indígenas,” destaca a tutora.
Colaboração de Texto: Letícia Amorim (Estagiária de Jornalismo/UNIFAP).