Poema de agora: A RIMA DOS CONDENADOS (*) – Sílvio Leopoldo Lima Costa (**) – Contribuição de Fernando Canto

A RIMA DOS CONDENADOS

A rima dos condenados
É a rima de mangue sangue
Rimando com o bangue bangue
Dos homens desajustados.
A rima dos condenados
É a rima dos enfermos
Suspirando os últimos termos
Nos leitos desenganados.


A rima dos condenados
É a rima dos patíbulos
Rimando com os prostíbulos
Dos seios dilacerados.
A rima dos condenados
É a rima dos dementes,
Dos velhos, dos indigentes,
Pelos seus abandonados.
A rima dos condenados
É a rima de Hiroshima
Que por si já traz a rima
Dos eternos mutilados.
Rimará custo de vida
Com os bolsos defasados
Rimará pena de morte
Com a sorte dos humilhados.


Rimará punhal agudo
No peito do desafeto,
Rimará censura e veto
E o medo me deixa mudo.
Rimará o amor traído
Rimará muita descrença,
Rimará o céu de juízo
E a discriminada sentença.
Rimarão filhos da fome
Os corrompidos e os viciados


Que a rima dos condenados
É tudo o que nos consome.
É tudo o que se afigura
A nos pungir, revoltados,
A senha da desventura!
A rima dos condenados!

Sílvio Leopoldo Lima Costa

 

(*) Da Antologia “Poetas Brasileiros de Hoje”, Ed. Shogun Arte, Rio, 1982.
(**) Poeta amapaense, autor de “Lira Ligeira” e “Poemas do Fundo da Gaveta”, entre outros.
(***)Contribuição de Fernando Canto

  • Silvio…cantava incisivo nas suas colocações silábica frutificando o poema.
    Do quadrilátero no bairro do laguinho que chamo de Oca de Poetas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *