Poema de agora: Anatomia da Saudade – Pat Andrade

Anatomia da Saudade

a saudade meu bem
brota aqui dentro de mim
lá no fundo do coração
por causa do lobo temporal

vem de uma lembrança antiga
de uma voz ou de uma canção
que o vento traz
um cheiro peculiar
que invade o ar

aí inventa cisco no olho
faz cosquinha
na ponta dos dedos
caminha pelo corpo inteiro

depois brinca de se esconder
na coleção de pedrinhas redondas
na flor amassada dentro do livro
num poema escrito aos seis anos

do nada vira foto borrada
faz a gente morrer um pouco
com a dor revisitada

a saudade meu bem
é uma ferroada invisível
que às vezes dói
e às vezes arde
é bicho que anda
sem ter pernas
voa sem ter asas
e canta implacável
nos fins de tarde

Pat Andrade

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