ANTITEMPO
Ninguém se enxerga no escuro,
O futuro
É atrasado,
O relógio anda ao contrário,
Os dias no calendário
Dormem no breu do passado,
E, nesse andar anti-horário,
Ninguém se sente seguro.
De um lado
Ou doutro do muro.
Ninguém se abraça no medo,
O segredo
É ser estranho.
A bruxa agora é queimada
Na solidão da calçada,
Marcada feito rebanho,
No chão da praça em segredo,
No sono da madrugada,
No banho
Ardente em degredo.
Ninguém se ajuda na guerra,
Quem berra,
Quem se reclama
No pavor da noite escura,
Quem sofre a dor da tortura
Sabe o quanto a chaga inflama
E quanto lhe pesa a terra…
Já afundamos na loucura
Da lama
Que nos enterra.
Ori Fonseca