Poema de agora: ARRANJO DO FENECIMENTO¹ – Marven Junius Franklin

ARRANJO DO FENECIMENTO¹

assim que meu pai se foi
– levado pelos modos indolentes da morte –
girassóis petrificados ladearam as calçadas mornas
da avenida magalhães barata

(os túneis de mangueiras
que cobrem a avenida nazaré esmaeceram
e a brisa leve – que invariavelmente batia da baia –
tornaram-se borboletas mortas a compor o fim).

assim que meu pai se foi
– distorcido por ventos e brisas –
uma nuvem gris permaneceu estacionada
em seu leito de extenuação

(a vidraça do quarto
partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio
e minha mãe morreu um pouquinho
– simulando cuidar de seu jardim bordado
de brinco-de-princesa).

quando meu pai feneceu
eu morri um pouco com ele
a cada dia que enevoava em meu alpendre de vidro

(era como se minha se alma
estivesse atrelada ao seu boldrié
a não querer largá-lo pela imortalidade).

quando meu pai feneceu
eu naveguei por vales e cordilheiras da morte
até adormecer com o ocaso

(era como a lhe esperar regressar
de seu voejo único – tal ícaro a se expor no firmamento).

Marven Junius Franklin

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