Poema de agora: ASAS DE CERA – Ori Fonseca

Ilustração: Dédalo e Ícaro. Óleo sobre lona, de Charles Paul Landon – 1799.

ASAS DE CERA

Não te atires do penhasco;
O amor perdido voa, tu não!
Nem as noites perdidas
Nem a dor de cabeça
Nem o choro convulso
Nem os teus pesadelos
Serão tua rede de amparo.
Não aceites as asas de cera
Que o amor te oferta.

Não te lances aos trilhos;
O amor é em tudo volúvel, tu não!
A solidão dos teus olhos,
Não secará teu pranto,
Nem o amargo da língua
Há de aplacar-te o medo.
Retém teu passo Karenina,
Teu anjo da guarda, um bêbado,
Não parará teu salto.

Não te rabisques com lâminas;
O amor tem veias vazias, tu não!
A frialdade da morte
Não cessará tua agonia,
Nem a poesia em teu lábio
Será o batom de teu beijo.
Nem os teus dentes cerrados
Estancarão teus horrores.
Levanta! Há mais amores por se morrer.

Ori Fonseca

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