BRAÇO DE RIO
Vou jogar-me num braço de rio
e agarrar as gotículas invisíveis
da imensidão, afogar meu clarão
de toda perseguição…
Sufrágio ao naufrágio da desilusão!
E lá nos braços do rio Araguari,
do rio Calçoene, do rio Oiapoque…
Esperarei um índio Waiãpi vim efluir meu juízo
com o júbilo abrigo da escuridão- redenção!
(Impelirei… partir-me- ei
no abraço da anaconda
que abriu a boca do rio.
Abraçarei a brasa de todo
rio até desembocar de mim).
Na nascente vou parir,
vou berrar no rio Jari.
Na força das caudalosas correntes
espalharei meu cerne afluente…
Embaçado e fértil das misuras
que a floresta espalhou nas criaturas.
Assomar no abraço quente de um
mururé e sangrar nas cabeceiras
espalhando meu sumo
expandindo meu bocado,
deixando em teus infinitos braços
todos os meus pedaços.
Annie de Carvalho