CADA FISGADA
Cada fisgada de dor está comigo,
Cada pavor de tua mão pesada.
Nó de mordaça, breu da madrugada,
Tudo a pulsar em mim feito castigo.
Cada palavra tua de inimigo
Rasgava em fios minha alma condenada,
Eu, invisível, murcha, acabrunhada,
Era fração do que sonhei contigo.
Mas sempre nasce o dia, e a primavera
Floresce para os fortes, para os fracos,
Para os que geram luz, para os opacos.
Cada fisgada inda me dilacera,
Mas se sobrou bem pouco do que eu era,
Com que sobrou de mim, junto meus cacos.
Ori Fonseca