Poema de agora: CHEZ MODESTINE – Marven Junius Franklin

CHEZ MODESTINE (Ao poeta Arthur Rimbaud)

embebecido por um bom bordeaux
amanheço blasé sob o alpendre frio do Chez Modestine
— almejo algo/coisa como um UnknownFlyingObjects
que me abduza dali
que me erga em direção ao improvável!

no meio do dia ouço Zaz berrando:
j’en ai marre des langues de bois!
j’en ai marre des langues de bois!
j’en ai marre des langues de bois!

e os moralistas de vidro me reparam
como seu eu não significasse necas
que nunca serei lhufas
e a medida das hipóteses concretas
engolem em seco as minhas bonnes manières
são ditos-cujos de olho pesados
com monóculos de lentes cafifentas
e armação de cimitarra

oh, céus!
e nem frases feitas
caem bem/explicam bem/delimitam bem
o que ajuízam de mim

sim, menina!
foi no Chez Modestine
que perdi o discernimento
que balancei o lenço aos piratas
e me fiz desmesuradamente aço-inox
versus a dissimulação dos autocratas

devia ter percebido
tempo que passei vislumbrando a escuridão que emanava do rio
devia te prestado mais atenção na Ilha do Sol
com sua ausência de avenidas
sem blocos de paralelepípedos
e sua mansidão

oh, minha Dulcinéia!
já te prometi tantos moinhos
e tantas garrafas de vinho ao luar

Nossa!
parece até que adivinhei
que as horas ali
eram calendários maias
que prediziam um futuro que nunca haveria

o emudecimento e o isolamento
a imagem da menina
escorada no píer de embarque
a espera do hipotético
e seus olhos eram ternos
os ensejos falaciosos
como a epiderme cálida
de uma sereia

rappelle-moi le jour et l’année
rappelle-moi le temps qu’ilfaisait…

Marven Junius Frankli

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