Poema de agora: A colecionadora – Jaci Rocha

A colecionadora

Livros ao chão
E a doce ilusão
De que sei algo!
ah! De que sei algo – e me delongo na ilusória distração…

Mas, de súbito, se achega uma borboleta
Asas e cor sob o ar,
Flor delicada que, ao vento, quis morar…
Ah! por que, carbono, a flor borboleta voa?

A já não me cabem noções de aerodinâmica!
Por que também não nasci com asas?
Se tão feliz, dançaria com as borboletas amarelas
Que passeiam, em Setembro, pela estrada…

Por que, carbono, terra é marrom
E essa pele que me reveste inteira,
Ou este rosto, ou esse afã
Por que aqui, neste momento
E não noutro, em 1500?

Nada que a religião não sossegue
E a filosofia não dite
Mas, por que enfim, haveria de crer
Num único motivo?

Se existem tantas cores e mesmo o corpo
Tem quatro sentidos?

E na pouca certeza dos livros ao chão
Entendo que mais que conhecimento
Vivo mesmo
É de colecionar por quês.

Jaci Rocha

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