Poema de agora: Desarrumando a Tarde – Luiz Jorge Ferreira

Desarrumando a Tarde

Não é porque chove sobre as telhas manchadas das sombras dos aviões, e urubus.
Que eu não possa descer os degraus da escada de dois em dois, enquanto Deus junta duas placas tectônicas sobre o Oceano Pacífico.
E lá no Curiaú, um caranguejo limpa as patas sobre o corpo seco de um camarão.
Eu pretendo ser o dicionário chinês em braille…
Para isso cegarei meu olhar com o leite de um murere…
Mas quando lembro…Chove!
Guardo os pensamentos dentro de um saco de supermercado…
As mãos eu lavo.
Porque não falei sobre gavetas emperradas…garrafas vazias… telegramas empoeiradas…selos umedecidos… retratos de Pinóquios…Poemas de Bocage…traduzidos em Birmanês…
Tenho um chinelo de recordações gastas.
Um travesseiro cheio de vestígios de sonhos.
E um cobertor comprado a prazo …pago com vida, e alguns planos que desejei tê-los…
Mas como chove…sempre os ponho a salvo…no depois!

Luiz Jorge Ferreira

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