Poema de agora: Descalço pulando Amarelinha – Luiz Jorge Ferreira

Descalço pulando Amarelinha

Estavam fugindo de mim pela janela da sala todos os meus fantasmas
Uns ainda envoltos em toalhas de banho, e outros vestidos de estranhas casacos…
Eu com um lápis crayon tentava desenhar a face de Deus em uma folha branca
Mas eles molhavam com uns respingos que lembravam o cheiro de Curimatã.
Alguns mascavam chicletes, outros iam ao toalete, outros me xingavam em Alemão
Dois ou três quiseram me dar a mão, mas acabaram deixando um Jornal do Pasquim.
Outro lambuzou o corrimão da escada que levava ao Ártico. de Glostora.
Um deles, que parecia canhoto, quis escrever no papel que eu mantinha sobre a tampa do piano, toda a história, do homem na terra…


Achei longa, e toquei Tico Tico no Fubá…mas ele pediu Strauss, somente uma Valsa em Mi Menor

Dormimos a tarde, cansados, eu distraído com a velocidade dos pensamentos, a presença de rugas, e o terceiro movimento da Heroica.
Eles de mangas arregaçadas, jogando sinuca, apostando fragmentos de paixões desenfreadas, um ganhou Romeu…


Outro trocou Julieta por uma garrafa de vinho Chileno…que abandonou na terça-feira de Carnaval…
Estava muito calor …
Comi gelo, e molhei os cabelos com uma xícara de Chá Preto…

Na bandeja Ostras Madrepérolas, uns retratos da Revolução Francesa.
Flores Congeladas, e Polens Envidraçados.
Saltimbancos da Caixa de Música, anêmicos prometiam amar os Girassóis, eu veloz prometi a mim…amar-me!
Um fantasma carregado de sotaque Irlandês…
Gritou…- Não te traías…
Messallina te enforcará com a linha do Equador.

Empapuçado de pó de toucador,
fingi definir o amor,
e me apaixonei por anáguas
Depois flutuei entre um compasso, e outro de um Tango bem cantado, rodopiei insano…
Sai pela janela…todo molhado.


A alma calma cintila aguardando o passaporte embrulhado em um papel perolizado de chocolate Nestlé.
Os gnomos saíam de dentro do meu estômago, mas saíam felizes, eu parecia ser o pai de todos os Ghosts, e os vendia por quilos,
coisa que ruborizava as estrelas nas entrelinhas das vielas vizinhas.

Não se afastem de mim a galope, não se aproximem a trote, estou tonto de Gim, culpa dessa Tilápia louca que me mastiga a boca a engolir minhas palavras.
Brincamos de trocar nomes, eu lhe apelidei de Vida, ela me chamou de Alma.
Perambulo a esmo com meus segredos costurados em Organdim preso a um vestido lilás…
Como poderemos dançar em paz.
Ela insiste em ser eterna.


Eu só peço que ela seja bela, e finja como uma atriz.
Eu sou apenas um fantasma, a desejar pular pela janela, e se dispersar nas trevas desesperadamente olhando para trás.

Luiz Jorge Ferreira.

*Do livro “Defronte a Boca da Noite…ficam os dias de Ontem” – Rumo Editorial São Paulo Brasil. 2020.

 

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