Poema de agora: Diário Oficial de Outro DIA – Luiz Jorge Ferreira

Diário Oficial de Outro DIA

Páginas que sobram:- Umas.
1971.
Cai a primeira telha e chove.

Dez anos.
O navio que passa ao largo.
Incorporou-se ao quadro da paisagem.
O dia treze de Abril cai na sexta-feira e chove.

Depois da chuva.
Vendemos a casa para um consertador de guarda chuvas.
Que cobre a lua com um pano preto.
Faço um rabisco triste do navio soltando fumaça.


Dependuro-o na parede do quarto, sob o espaço vazio da primeira telha.
Na fotografia, datada de mil novecentos e sessenta e nove.
Vejo nos três, bizarros, para a Kodak desfocada.
Tomando um táxi.

1970.

Ana suicidou-se com barbituricos.
Eu quebrei um pré-molar comendo Fruta de Conde.
Migraram as Garças pintadas no pano de prato.

1980.

Tomamos um porre de Gim.


Curtimos tim…tim… por tim…tim…
9…1/2…Semanas de Amor.

Em 1990, houve eleições.
Hoje!
Doze de Outubro, chove.
Silvia, continua virgem.


Eu?
…me mudei.

Luiz Jorge Ferreira

* Poema do Livro “O Avesso do Espantalho” – Scortecci – São Paulo – 1998.

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