DISTOPIA
Aqui
Onde a língua corta a faca
Há um jogo de eternidades
Na memória dos falantes
– Esses deuses que sabem todas as senhas dos mortais,
Seres que aplainam a tábua dos fatos
Para lhes tirar os excessos que lhes condenariam
Aqui
Há casas sobre as águas
Feitas com os crassos troncos das marés
Aqui mora a ira
Mora a iracúndia profunda expressa em rugas
E o costume de engolir palavras nunca articuladas
Do convívio estreito com o sol
Dentes se oxidam e línguas apodrecem
Sem sonhar futuros e a embotar o brilho das estrelas
Talvez numa estrada de águas e ínguas
Uma légua de língua corte a jugular
Para sair a palavra evasiva ao último esforço
Aqui, onde se mastiga a sílaba silente
Fernando Canto
1 Comentário para "Poema de agora: DISTOPIA – Fernando Canto"
Singular!