Do pensar do gato
Em cada marco um conceito de cicatriz
Nessas paragens onde apago
A vela das almas.
Acredita!
Nas segundas ou nas sextas
Tenho que despachar encruzilhadas
E me serpentear na brisa.
Teimo no onirismo da reconstrução
Ora, eu via dutos
Via láctea
Via cruzes
E avestruzes mastigando o caminho
Das estrelas
Quem era eu? O fardo dos guindastes?
Um porto que abriga as meretrizes?
Quem antes de mim
Jazia nas sepulturas das pontes
Nas partes açodais do fundo?
Eu era, sim, um ranço rebuscado de alfazema
E me volatizei com o vai-e-vem das docas
Fui.
passei pelos guindastes
freuds
E fálicos.
Lembro que afaguei sete cidades
com minhas mãos fustigadas pelo vento
Naqueles dias de então
Em Izapa, em Yucatán
Sobre símbolos piramidais do sol
Vi deuses-cavaleiros cortando pescoços
Era um mês triste, não sei se maio ou maia
Era um mês
E reluzia um ouro avermelhado
Por um triz, acredita,
Não mergulhei num ventre
me perguntando se eu era eu ou um ente
Que pelo mundo fechou as mãos de medo
Eu ferro via
Eu rodo via
Eu aero via
E via um mar
Na face esquerda dos passantes
Hoje, crê em mim,
Existe um sonho de Oz
Onde o espantalho se move
E um ser de lata toca flauta
Pois, nesta tinta virada em pensamento
E amargo em minha angústia
Ainda creio
Que o sonho do gato
É pegar o pássaro.
Fernando Canto
*Poema do livro “Um Pouco Além do Arquipélago, Onde Acho Que Deus Mora”.
1 Comentário para "Poema de agora: Do pensar do gato – Fernando Canto"
Carismático!