Poema de agora: ECLIPSE MATERNAL (*) – Luiz Jorge Ferreira

ECLIPSE MATERNAL

Entro em você, mãe, não para que seu calor me
Aqueça, para que eu lhe aqueça.
Não para que você me proteja com seu abraço,
Mas para que a lembrança dos seus braços,
Receba os meus abraços

Entro em você, mãe, não para que eu volte
Ao lugar onde muitas vezes estive,
Mas para que sua consciência cósmica receba
Minhas vibrações íntimas, como um beijo.

Entro em você, mãe para que entre nós se
Fortaleça a criação que se iniciou quando você de
De mim engravidou, e estará consigo quando eu, mãe,
For também.

Entro em você, mãe, para que mesmo dormindo
Nunca perca de vista esta distância que só se faz
Crescer entre nós

Mas dentro do seu desenho, no interior do seu
Interior, recomeço.
Recomeço sempre, embebida nas suas lembranças,
Carrego comigo todos os algos de você que nunca
Saíram de mim, dentro da sua figura desenhada.

(Para quem nos olha)
A figura é a minha, aninhada, terna,
Cicatrizada nas pupilas do tempo.
Louvo a distância que me fez reconhecê-la
Aqui na superfície fria deste chão.

Luiz Jorge Ferreira

(*) MÃE EM UMA FOTO

Recebi de um amigo a foto (uma garotinha, órfã de guerra, desenhou um corpo de mulher representando sua mãe, a giz, no chão do pátio do lugar onde se abrigava. E nele entrou e se deitou, tendo o cuidado de deixar de fora do esboço traçado no chão, os chinelos, como fazem os asiáticos, em forma de respeito, ao adentrar o solo sagrado do lar). Daí o poema.

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