Poema de agora: Elogio do sobrevivente – @juliomiragaia

Elogio do sobrevivente

Nas mãos e nas asas,
Que não sabemos ter,
Há matéria de um vento
Nu e oxidado, por cada
Loucura e cada chuva
Onde o peito mergulhou.

Nas mãos e nas asas,
Que às vezes sentimos,
Os abismos são
Pequenas esperanças,
Canhotas feras azuis ou
Velhos sóis empoeirados.

Nas mãos e nas asas,
Que julgamos nem ter,
Há jardins de mofo,
Mercedes Sosa e caminho,
Equações de nós mesmos,
Entre a aspa e o futuro.

Há também, nas mãos e nas asas
Que sentimos nos braços da espera,
Mururés florescendo em cidades,
Heróis de uma porre-literatura,
Amores perdidos e invertebrados
Que insistem em sobreviver.

Entre a aspa e a espera,
Nas mãos e nas asas,
Dormem, ao som do trabalho,
Cavernas inteiras de ti…
Ruas tímidas e empoeiradas
Que insistem em se dizer.

Júlio Miragaia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *