Estrangeiro
Vou vos contar apenas num soneto,
Vós sois um retirante do estrangeiro.
Eu também sou, vim num navio negreiro,
Morrendo desde o parto, por ser preto.
Cá na cidade, vós viveis num gueto,
Chapa quente do beco brasileiro,
Onde a temperatura de braseiro
Derrete desde a alma ao esqueleto.
A vossa prole abunda nos mercados
(Com seus estômagos atrofiados)
Nas portas de farmácia — a nova igreja —,
Nos ônibus negreiros da cidade,
Na fila insana da descaridade,
Sem despertar um mero olhar que seja.
Ori Fonseca