Eu tenho um pedaço da noite
Um pedaço de noite que me beija,
me afaga,
me afasta dos delírios,
me carrega para o sonho,
afasta de mim o luar,
abafa os sons dos gritos
e dos suspiros dos desesperados.
Esse pedaço de noite é um poema,
fiapo de poema,
uma linha invisível soprada pela escuridão
e amarrada nos galhos opacos dos medos,
das neuroses, do saber inútil que
varre a esperança do mundo.
Eu tenho um pedaço de noite
nos meus olhos de ver,
na minha alma de ser,
no meu leito de sonhos.
Eu tenho um pedaço de noite
que não é meu nem de ninguém,
nem dos navegantes antigos que
se perdiam nos mares,
nem dos poetas medievais,
nem dos alquimistas e bruxos.
Eu tenho um pedacinho de noite
que é somente meu:
é o meu poema!