Poema de agora: Frutos que não colherei – Luiz Jorge Ferreira

Frutos que não colherei

Eu vou voltar para casa.
Perdi as penas das asas.
Minha bússola é uma moeda enferrujada.
Minhas esquinas são imãs,
e meus degraus são desenhos de gesso e breu.

Estou de volta para a horta.
Replantar pêssegos verdes para o próximo ano.
Revolver o tempo com uma colher quebrada.
Porque deu em nada quebrar nozes…
Assoviar Beethowen, e desenhar Chopin…
Bebi aguardente esperando o Ocidente envelhecer…
Tomei orvalho sentado grisalho na igreja fechada, eu atiçando a fé.
Procurei Deus entre as formigas, em fila andando para o infinito.

Agora retorno para casa
Vou pelo relógio da parede, por meio de seus tics… tacs…
Acerto o ritmo do meu coração…
Tenho certeza que lá em casa, repousa aquele adeus que dei quando parti.
Pode até ser que ele tenha vindo atrás de mim…
Eu apressado, afoito batendo as Asas… não vi.

Mas nunca será tarde,
para espalhar as mágoas no jardim…
Nunca colherei pêssegos, as manhãs descansam entre proparoxítonas terminadas em… s.
Por isso minhas preces foram se esconder no porão…
Tenho várias fotos de minhas Asas agarradas ao vento.
E eu apressado, afoito, batendo as Asas, não vi.

Soube que o amor virou um pássaro triste que gorjeia canções apaixonadas em Mi Menor.
Soube que o adeus correu contra o vento, e fingiu que voava como uma solitária folha em meio a solidão…
Mas soube que as mãos tolas bailarinas rodopiaram em vão.
E eu apressado, afoito, batendo as asas não vi.

Nunca colherei Crisântemos, eles têm odor de alma, e essas se dependuram em minhas Asas para que eu não alçe vôo.
Tenho várias pinturas de minha vida, secando as penas.
Mas eu apressado, afoito, batendo as Asas… nunca vi!

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro “Diante da Boca da Noite Ficam os dias de Ontem”.

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