Futuro emergencial
O presente pesa
Como água da chuva
Pesa sobre a pétala da flor
Na chuva japonesa
O tempo presente
É matéria prima
Para jardins de angústias
E pesa como se carrega
Um corpo à meia-noite
À beira da estrada
O presente é uma granada
Que escapa às mãos
No momento mais decisivo da guerra,
Entre o medo e a esperança
O presente é ônibus lotado
Falta de dinheiro,
Inflação,
Solidão,
Ressacas e doenças espalhadas
Na sala de qualquer trabalhador
A entidade temporal tropeça
Do alto do edifício
Mais alto de Belém
Sem paraquedas ou salvo-conduto
Que aprenderá como voar
O presente deseja,
Do fundo de suas asas,
Voar em direção à aquarela
Veranil e esfumaçada
De um bondoso pôr do sol
Júlio Miragaia