Poema de agora: Herança – Luiz Jorge Ferreira

Herança

Minha mãe era meu pai.
E meu pai era minha mãe.
Eles deixaram comigo uns ais, que eu engoli… com branca saliva, e farinha d’água.
Eles me molharam de mágoa, para eu sarar… açaí.
Eles me fizeram ser eu.
Quando eu queria sumir entre seus olhares de pais. Sob seus olhares de saudade. Qual uma pipa colorida, fizeram uma briga com o vento e a vida… e eu venci.

A saudade apodrece com o tempo, mas essa não apodreceu
Pregaram em minha camisa puída, fé.
Para olhar o amanhã, pela janela da esperança, grudaram horizontes em meu olhar.
Eternamente peço desculpas e bênçãos, avexado por bulir em silêncio com os pecados, de cocoras por ali.
Engulo tantas mesuras, com outras caretas feitas no escuro, que eu mesmo colori de breu, que ateu que era… hoje amo Deus!

Sobre eu bater asas sozinho, e descobrir os caminhos, e ser o eco dos trovões, me aguça a troca…
Troco meus olhos pelo medo do escuro.
Troco meus dias, pelo pitiú, do sentimento sufocado com lágrimas.
Virei a página… mãe, era pai de novo.


Não refaça os versos, onde temos luz, temos a escuridão, agarrada nas retinas.
Temos as Ladainhas, e temos o amanhecer, e temos o recomeço, dócil como um azul.
Por isso minhas coisas não são tristes de saudade, cada vez mais embriagadas do meu cheiro de suor.


São saciadas de paz.
E se elas ouvem gemidos dentro em mim, basta olhar o que vi para cegar.
E o que era uma estrela virava um peixe quando caia no rio.
E esse rio… que se sacia n’água… fui eu!

Luiz Jorge Ferreira

*Do Livro “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial São Paulo Brasil – 2020.

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