Lâmina
Dizem que tudo começa na infância
O raio
O espectro
A ave
O cedro
A órbita do tempo
se revira nas minhocas
soterradas no estrume
Canta um galo
ao longe
E no ouvido
freme um zumbido
de aurora
Enquanto homens e mulheres
acimentam o chão,
eu lavro uma terra
esquecida
Não sigo os lampejos
as latarias
o trânsito
e os sinais
do mês de dezembro
O sino que toca é outro
Poucos podem ouvir
Porque está além
do cimo das igrejas
ele toca nas quinas
na curva metálica
da janela
sobreaquecendo
ao sol
onde seca o orvalho
nasce sempre
outro tempo
A cada manhã
tem uma lâmina
afiada
Queimando
Evaporando
A água
A sede
– sempre a última gota –
Que tu trazes na memória.
1 Comentário para "Poema de agora: Lâmina – Mayara La-Rocque"
Dizer o que de quê…apenas aplaudir!