Poema de agora: Leitura Dinâmica em Braile – Luiz Jorge Ferreira

Leitura Dinâmica em Braile

O Mecânico Paraná… o Médico Manoel Aladir… e a Dona de casa Benedita… faleceram…
Dois percevejos faziam ninho.
E os vizinhos da frente se mudaram.
Levando com eles, o som do Rádio que em alto volume, ouviam.
Deixaram o latido do cão detrás do muro branco pichado de preto…
A frase está lá…
‘ Deus morreu!
Fidel morreu!
E eu não estou nada bem.’

A morte nunca passou soprando apitos.
Nem tocando Castanholas, nem afinando Banjos.
Talvez molhada de chuva, tenha ido no Caminhão de mudança, junto aos pratos louça, talheres de metal, restos de Pizzas, Vermutes com fatias de limão, Garrafas vazias de Rum, Garças de Gesso e Gatos de Porcelana.

Dois Canários coloridos, cantam seus Sustenidos, de dentro da gaiola em forma de Chalé.
Os vizinhos distantes, não os ouvem.
Ouviam depois da chuva, quando o Guarda Noturno cruzava a rua soprando os Bemóis do seu apito.

Eu não tenho medo, eu não queria ir agora.
Antes de grafitar a lua, varrer a rua, por a dormir os Percevejos, afinar os Canários, e por fim… deixar os latidos do cão devidamente guardados na Caixa de Correios.
Sigo então, como quem vai comprar água, para lavar a alma.

Vírus são seres lindos…
Ferozes.
Vendo-os no Microscópio Eletrônico de Varredura,
é como se olhássemos peixes ornamentais no fundo do mar.
Deus gosta de cores.
Porém para ele uma briga entre Vírus, Seres Humanos, Macacos, Pavões, Cotia , Formigas, e Baratas, não dá para fazer uso da palavra piedade… é tudo questão de sobrevivência, para que a vida siga em frente.
Penso nisso!

Quando os Anjos da Morte, vêm em bandos, escutar os Canários dançar com os Percevejos.
E esconder os latidos do cão, que querem fugir pelas digitais do passado.
Ela nos visita…
Sempre leva alguém consigo.

De manhã para se livrar do vento açoitando no quintal.
Deita-se no chão, beijando as pedras espalhadas ao léu.
A tarde para se defender da luz, toma abrigo debaixo dos Coqueiros cuja as palmas desavisadas de tudo bailam sob brisas ingênuas.
A noite espelhada pelas sombras, sucumbe ao desejo e faz filhos com as trevas, e os deixa nascer em segredo…
São esses, que o Jardineiro afaga quando poda as roseiras.

Luiz Jorge Ferreira.

 

*Osasco…05.02.2021.

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