Poema de agora: Lembrando de Belém – Luiz Jorge Ferreira

Lembrando de Belém

Belém se esconde entre um monte de fotografias desfocadas.
E uma ilusão de que ontem será amanhã.
E que eu reencontrarei comigo calçando aquela sandália de tiras presas a um prego enferrujado e um calção puído cobrindo a outra parte da saudade onde eu desenhei um riscado de caneta simbolizando teu nome disfarçado de uma frágil ave azul…
Quero me abraçar comigo, mas o de hoje não é o de ontem e ambos não se reconhecem… nem no perfume de sua vez, nem no rosto espelhado no espelho.
Minha amiga disse flagrando minha angustia por chuva… vou guardar uma nuvem carregada de pingos para você…
Quero correr por suas ruas madrugadas sem fim.
Quero me derreter no calor.
Quero o Quero-Quero pisando na lama que o rio abandona, e um dia virá buscar.
Quero a nódoa negra dos Urubus, plainando nas brisas entre as brancas nuvens de algodão, sem um manchar o outro… mão na mão.
Há em mim destroçado pela umidade, pela saudade, e pelos dias que se passaram tantos, uma história bêbada de volteios.
Sou eu dezembro, sou eu janeiro.
Sou eu a melodia sem melodia desses dias enfadonhos… em que envelheço estranho, mergulhado em lembranças…
Haja a chuva para me ensopar a sede.
Haja sede para invejar a chuva.
Somos tão iguais que parecemos diferentes.
Há de ser hoje quando chover, se chover na chuva essa chuva de querer…
Haja tanto Belém!

Luiz Jorge Ferreira
15.07.22

  • Carreguei todas as nuvens de poemas e após as engravidei e assim andei cantando na chuva o
    nascimento de meninos lindos que eu entreguei aos cuidados de meu bem em Belém. Parabens Luiz lua luar
    Estes teus poemas trazem gosto de saudade

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