Matapi: balseiro das horas
I
Chove às vésperas,
Chove no Matapi,
Mergulham meus olhos,
Sonolentos e frouxos,
Nas águas confusas
Do ano que se foi,
Cruzo a ponte
Tal quem atravessa
Passado e presente
Em direção
A futuro qualquer,
Chove às vésperas,
Chove no Matapi,
Na estação da lama
Deu hora do cheiro do café,
Deu hora dos diabos,
Indefesos e cagados,
Partirem pra Caiena.
II
Como invandir de baratas d’água,
Nos pátios em dezembro,
As esperanças,
As mais canhotas e delinquentes,
Reamanhecem às vésperas
Do porvir,
Chove às vésperas,
Chove no Matapi,
Molha o lento casco
Do caracol no asfalto,
Chove no tempo
Lançado a balsas-visagens
Que atracam e que depois partem
Em direção ao velho e indomável
Inverno amazônico.
Júlio Miragaia