Poema de agora: MERCADO DE CARNE – Obdias Araújo

MERCADO DE CARNE

Era só enfiar o dedo indicador no canto da boca
Melar bem de cuspo e erguer a mão
Com o dedo apontado.
O friozinho apontava a direção do vento.

Chico Marques…

Bom mesmo era à boca da noite
Quando soprava o Terral
e as cangulas chinavam
lá pras bandas do Del Pillar.

Foi ali
Bem pertinho da barbearia do Timboteua.

O sujeito em ridículo decúbito dorsal
Calça Brim-Coringa até os joelhos
Parafuso de ponte – dos grandes! – atoxado no fiofó.

Acolá no clipper o Amilar Brenha no cavaco
Fazendo ponteados para o Mercedes Benz do Caixa-de-Cebola

Pai d’égua também era brechar as putas do Maria-Mucura
Ou as filhas do Santa Brígida nuínhas em pelo
Tomando banho no quintal embaixo do coqueiro todo meio-dia.

Em frente a bar du Pedro o inspetor Oto
Vermelho de birita esbravejava que
O balão de aço do moleque petequeiro
Era roubada da balança do Mercado-de-Carne

Mentira!
Ele queria mesmo era as petecas.

Encheu os bolsos e saiu
Assoviando a canção da Guarda Territorial
Sem dar bola para o choro dos meninos.

Na verdade o que eles queriam era ensinar que
As esferas de aço da balança tinham
Uma cintura para a prancha não deslizar
Debaixo dos quarto de boi e dos quilos de peixe
Que o picolé trazia nas costas
Paneiros enormes!

A solução encontrada
Após rápidas confabulações foi alçar a baladeira e tocar
No lombo do meganha o que sobrou das petecas.

E mais o balão restante bem maior que o primeiro

– este sim roubado da única balança do mercado
Bem debaixo do único olho de Lachina.

Obdias Araújo

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