Poema de agora: O ANZOL DA ESPERA – Fernando Canto

O ANZOL DA ESPERA

Meu tempo
Não é um achado de lembranças
Não é selo/estampa/escudo/emblema/taciturno ícone
Insígnia invisível,
Sombria projeção de sonhos aparentes,
É círculo vagante, mítico
Recém-saído
Do jogar do anzol em dias de águas revoltas
Quando encurralado fico em mim mesmo.

Anzol-arpão-rede-zagaiama-zagaia-zagarana
Olhos e bocas espantados esperam,
Borbulham no fundo d’água:
Condomínio de botos/caruanas.

O brilho do anzol é uma cilada – a morte anterior
Ao fruto da vida – ligação tardia
Do amor em seu percurso

Agora um peixe eu sou
Fisgado e vindo à superfície
Pelo anzol da lembrança/pela linha da corrente.
Sou guelra/brônquios/ barbatana/ escama
Sou ar que explode
Em séculos de espera.

Fernando Canto

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