O PÃO
E essa desnutrição amorosa?
E essa fome infindável de afeto?
A volúpia, o desejo mais secreto,
Secreta em rios da pele pegajosa.
E essa inanição de quem não goza?
E a sede que não cabe no alfabeto?
A fúria da paixão é um dialeto
Que o amante expressa da poesia à prosa.
Eu tenho as fomes mais desesperadas,
Pedindo amor dormido no portão,
Mas os portões têm trancas reforçadas.
O pão do amor é raro no verão,
Mas sigo mendigando nas calçadas,
Vivendo das migalhas desse pão.
Ori Fonseca