Poema de agora: O pescador do por do sol – Júlio Miragaia (@juliomiragaia)

Foto: Júlio Miragaia

O pescador do por do sol

Puxa, na verdade,
O crepúsculo que espelha
De outro mundo,
Da fundura solitária das águas

Puxa, na verdade,
Partículas de luz
E algumas horas
Entregues ao fim,

Fim que ainda não é
Fim que veio e está,

Puxa, na verdade,
Objetos fluviais
Não identificados
Do ventre idoso
Do velho Araguari

Puxa
O ômega da fome,
Erupções
E rios inteiros
De desamor

Ao certo,
Puxa cardumes
De garrafas de cachaça
E saudades
Que não sabem nadar

Puxa também,
Tempos inteiros de mortandade,
Expostos em inundações
E no progresso
Que sopra para uns

Puxa, na verdade,
Da imensidão de poesia,
O cio do abandono,
Iluminado e temperado
Por turbinas e comportas,

Modernidade longínqua
Da mesa de jantar
De um jovem pescador
Que puxa do vazio de peixes
Nada além que o pôr do sol

Júlio Miragaia

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