Poema de agora: O poeta em greve – Bruno Muniz

O poeta em greve

O jardim que alcance a flor!, não escreverei uma vírgula. Percebam!, estou em greve.
Meu ofício é ter escolhas, sou livre!
Mandem-los medir a circunferência do pó, pois batatas eles hão de plantar com sorrisos e logo estarão a estorvar-me. Digam-lhes que os dedos se extraviaram, que rompeu o terraço a alma, digam-lhes qualquer coisa!, oras!
Tenho sonhado com a gente do interior. Vou-me embora, terei o verão como paredes, farei visitas inesperadas. Conhecem o Mar de Morros? são como os Lençóis, só que decorados verdes. Terei rendeiras de espírito, lavradores de jardim, serão minha única comunicação entre os dias.
Lembrem-se: hei de ter pressa e silêncio nos meus pés.
Ontem é só um pouco e tão longe.
Digam-lhes que deu praga à poesia, e asa.

Bruno Muniz

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